domingo, 16 de junho de 2019

UMBANDA ORIGENS








Em fins de 1908, uma família tradicional de Neves estado do Rio de Janeiro, foi surpreendida por uma ocorrência que tomou aspecto sobrenatural: O jovem Zélio Fernandes de Moraes que fora acometido de uma estranha paralisia, que os médicos não conseguiam debelear, certo dia ergueu-se do leito e declarou: "Amanhã estarei curado".

No dia Seguinte levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada, antes lhe houvesse tolhido os movimentos. Contava apenas com dezessete anos e destinava-se a carreira militar na Marinha.

A medicina não soube explicar o que tinha ocorrido. Os tios, que eram padres católicos, foram colhido de surpresa e nada esclareceram sobre a misteriosa ocorrência. Um amigo da família, sugeriu então, uma visita à Federação Espírita de Niterói, presidida por José de Souza na época. No dia 15 de Novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a participar de uma sessão, o dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar à mesa.



Tomado por um força estanha e superior à sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer membro da mesa, o jovem Zélio levantou-se e disse: "Aqui, está faltando uma flor!" - Levantou-se, retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa. Essa atitude insólita causou um tumulto.



Restabelecida a "corrente" manifestaram-se espíritos que se diziam pretos, escravos, índios, caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos, advertidos do seu estado de atraso espiritual.(Fonte: Seleções da Umbanda, em 1975)

A insistência dos dirigentes da mesa, para que os espíritos de negros, escravos, não perturbassem a sessão, causou uma discussão acalorado, entre o espírito que Zélio incorporava com os demais que queriam doutriná-lo.

Zélio tinha argumentos sólidos, e um dos médium da mesa, perguntou ao espírito que estava incorporado no Zélio:" Porque o irmão, fala nestes termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? E, qual teu nome irmão?"



Zélio Respondeu, incorporado: "Se julgam atrasados esses espíritos dos pretos, índios, caboclos, devo dizer que amanhã estarei em casa desse aparelho (corpo do médium Zélio), para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja esse: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."

Continuou:

"O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro."

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”


O vidente retrucou: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?" -  perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse:
"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".



Para finalizar o caboclo completou:

"Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"



No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.



Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.



A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.



O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.

Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

" Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."



Após insistência dos presentes fala:

"Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:



"Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade.










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