Cícero: - Sem dúvida, satisfeitíssimo. Mais uma
pergunta: em face desse conceito, desejo saber, oh! Sábio “preto-velho”, como
se qualificam, no panorama de tantos e tantos
terreiros”, as modalidades de “umbandas” existentes ? Essa lei, essa
corrente, esse movimento não obedece a diretrizes ou regras de cima para baixo ?
Preto-velho: -
Sim... Boa pergunta você me fez, oh! Filho esperto... Neste panorama
umbandista, você pode identificar, com a maior facilidade, três classes de umbandas
praticadas...
A PRIMEIRA
CLASSE é a que engloba o maior número de agrupamentos ou terreiros. Está
puramente construída pelos seres humanos. É essa mescla rudimentar, confusa de
cada um fazer o seu “terreiro”, seu ritual, segundo o seu entendimento ou a sua
“sabedoria” sobre Umbanda, sabedoria essa baseada exclusivamente, no que viu e
ouviu em outros “terreiros” similares, onde predomina o sincretismo
afro-católico.
Esses ambientes
nos dão muito trabalho de fiscalização astral – de cima – pois estão fortemente
influenciados pelo baixo mundo astral. Nesses agrupamentos, a doutrina é quase
inexistente. De Evangelho, quando alguém lhes fala, bocejam de tédio e
indiferença. Não há quem faça a adaptação desses evangelhos a seus entendimentos,
levando em conta seus estados de consciência – de ignorância dessas coisas; mas
o incremento da luz prossegue, por baixo e por cima, firme e serenamente,
enquanto eles se ocupam mais em tocar seus tambores e bater suas palmas.
A SEGUNDA CLASSE
vem com menos volume de agrupamentos e se prende àqueles que são mais elevados,
mais simples; desejam praticar Umbanda, pautada nos ensinamentos evangélicos,
no que eles revelam de mais necessário.
Para isso, apelam para a corrente dos “caboclos” e
“pretos velhos” afim de ajudá-los nesse mister. Fazem um ritual suave, sem
palavras, sem tambores.
Aproveitam a força e a beleza de certos pontos cantados
ou hinos, que sabem serem de raiz.
Esse é um dos
aspectos que aprovamos, dada a sinceridade de propósitos, desde que não saiam da
faixa religiosa, doutrinária e mesmo de certa cautela com o lado fenomênico.
Assim,
procuramos com paciência e até mesmo tentamos localizar algum 28 possível
aparelho ou veículo mediúnico e, por ele, fazer positivas incorporações para
estabelecermos os princípios ou Regras da
Umbanda na teoria e na prática.
A TERCEIRA
CLASSE, com uma quantidade mínima de agrupamento, é a que se identifica com
Ordens e Direitos de Trabalho. Isso acontece quando temos ordem para agir sobre
um legítimo aparelho ou médium. Aí, imediatamente estabelecemos esses citados
Princípios ou Regras da Umbanda, a par com a caridade que vamos praticando.
Esse é o único aspecto ou classe capacitada a movimentar a terapêutica dita
como natural e astral, dentro da magia positiva,
sempre para o Bem comum e que se firma nos verdadeiros
sinais riscados e já classificados como Lei de Pemba e sobre os quais voltarei
a falar.
Agora, devo
frisar o seguinte: o nosso contato – dos Guias e Protetores – com esses médiuns
e aparelhos-positivos não se dá exclusivamente por via incorporativa. Fazemos e
assistimos também, pelos que têm vidência, intuição, audição e gostamos muito
de o fazer pelos de mediunidade sensitiva, os únicos que não podem ser
enganados ou mistificados.
Cícero: -
Desculpe, Pai-preto, queira repisar mais esta lição porque, em todos os
aspectos ou classes, tenho visto coisas relacionadas com a magia. Em todas assisti
riscarem pembas dessa ou daquela forma.
Preto-velho: -
Bem, “zi-cerô”, isso quer dizer que você notou com segurança as três
discriminações que fiz. Pois é claro que essa primeira classe é a que mais trabalho
nos dá, devido ao seu volume, quantitativo e qualitativo. Nela, os filhos, levados
pela justa tendência de suas finalidades, entram na corrente de Umbanda ou
resolvem fazer “umbanda”.
Até aí, tudo
certo, mas logo decidem praticar “magia de encenação”, através do que têm visto
fazer sob a forma de grosseiras oferendas e sacrifícios que envolvem e atraem
forças do astral inferior, que passam então a dominá-los, visto eles não terem
o conhecimento certo dessas coisas, mormente quando riscam pembas (por
impulsos), desconhecendo completamente a expressão mágica dos verdadeiros
sinais riscados, causando assim, plena confusão de sinais ou signos, idêntica
confusão na corrente mental e astral que por força de tudo isso está formada ou
se forma, devido às atrações ou afinidades que vão imperar.
Na segunda
classe, mesmo dentro da sinceridade, dos bons propósitos, contando até com
filhos estudiosos, muitos egressos de outras correntes e religiões, são
inúmeros os filhos que de repente se empolgam e fogem do âmbito religioso,
doutrinário, começando também a praticar certos atos que pretendem ser de
magia, por conta própria, embora em plano mais suave que os primeiros.
Ora, se eles não estão ordenados ou mesmo capacitados
para tal fim, se eles não 29 têm o conhecimento que o assunto requer e ainda
sem o beneplácito ou a garantia dos Guias e Protetores, para isso, o que pode
acontecer? São logo envolvidos pelas forças relacionadas e invocadas que, não
encontrando elementos de garantia neles, tomam o campo, incentivam-lhes a
vaidade latente, dessa ou daquela forma, atacam um ponto fraco qualquer...e...
lá vem mais atividade para nós, mais fiscalização etc.
Em pouco tempo
esses bons filhos criam o seu “cascãozinho”, que enrijece tanto, a ponto de
vedar seu consciente à luz da humildade imprescindível ao bom umbandista.
Oh! Eterna
vaidade, filha da ignorância!!! Até quando persistirás no inconsciente das
criaturas, retardando sua evolução?
Cícero: - E a
terceira classe, preto-velho, também dá trabalho?
Preto-velho: -
Claro “zi-cerô”. Infelizmente, muitos, dentro das prerrogativas do
livre-arbítrio, também se extraviam.
E como já falei
das condições negativas que existem ou que atuam, quer na primeira classe, quer
na segunda, devo, embora com tristeza, citar que, nessa terceira classe,
acontecem também graves fracassos, com esses aparelhos que recebem Ordens e
Direitos de Trabalho...
Esses aparelhos
(ou médiuns), meu filho, quando extraviam ou melhor, quando baqueiam, quase
sempre acontece por causas morais. Não vou esmiuçar essas causas... Apenas
afirmo que esses são os que mais sofrem – depois da borrasca.
Sofrem dolorosamente, porque os seus dramas morais
mediúnicos são relembrados por eles a todo instante, ativados pelo remorso e,
especialmente, quando reconhecem, onscientemente,
que perderam os contatos positivos de seus antigos Guias e Protetores.
Eles – que foram
médiuns de fato – lutam desesperadamente para reaver os fluidos perdidos, isto
é, a proteção de seu caboclo ou preto-velho, etc... No entanto, nada...
Então, dá-se um
fenômeno curioso, que confunde a eles mesmos ou, melhor, os martirizam mais
ainda, porque os deixam sempre nas eternas dúvidas. É o seguinte: - das antigas
incorporações positivas, precisas, ficou, não resta dúvida mesmo, uma série de
reflexos psíquicos condicionados ou de neurossensibilidade.
Esses reflexos neuropsíquicos ficaram
impressos em seus centros nervosos ou sensitivos, no grupo de células que mais
receberam a influência ou a ligação 30 desses citados e antigos contatos
mediúnicos e de seus protetores. Daí, sempre que, por um processo de associação
mental ou psíquica, quando pela concentração ou mentalização, esse grupo de
células revive ou externa seus reflexos ou as impressões sensoriais que guardou
dos ditos antigos contados vibratórios que, realmente, recebiam de uma
Entidade. Assim é que os pobres “médiuns” pensam, por via disso, que ainda têm
os fluidos do “caboclo ou do preto-velho”...
Porém, eles
sentem que a coisa se reflete – mas não é tal e qual era. Até pensam que estão apenas com a “mediunidade
enfraquecida”... E haja preceitos e haja velas para o Anjo de Guarda...
Coitados... Terríveis dilemas os assaltam. Dúvidas cruciais os atormentam...
Será mesmo ou não?
Assim, quase
sempre, dentro de duríssimas vaidades ou de um amor-próprio sem razão, vão
imitando, pela prática ou por via desses citados reflexos psíquicos condicionados,
o modo de apresentação das entidades que os assistiam no passado. Não confessam
a ninguém os seus dramas mediúnicos...e acreditam que os outros não percebam o
fracasso... Como se enganam!... Os outros já perceberam sim. Chegam até a
ironizar deles, comentando: “Fulano é duro não quer dar o braço a torcer”...
E, geralmente,
devido às condições em que caíram, entram em distúrbio, isto é, suas antenas
mediúnicas que já saíram daquela tônica da antiga positividade, passam a dar
contatos com espíritos atrasados e aproveitadores que, por essas antenas
irregulares, entram em sintonia. Que fazem esses espíritos atrasados?
Passam a influenciá-los, em nome dos protetores tais e
tais. Aí é que a coisa toma um aspecto lamentável.
São envolvidos,
a vaidade incentivada, etc. Então, passam a ter cismas diversas, desconfianças de toda a ordem,
“intuições” atravessadas, fazem consultas erradas, predições falsas, etc. Que
fazer? A maioria continua nesse roteiro de incerteza, erros e angústias. Porém,
um ou outro consegue reabilitação.
Cai na meditação, na oração, num sincero arrependimento,
etc. Recompõem-se na parte moral mediúnica. Entra na faixa da humildade, da
tolerância e da compreensão e, certo dia, vê surgir nova aurora espiritual.
Surpreso, presa de doce emoção, chorando até, constata a presença viva,
atuante, dos verdadeiros contatos mediúnicos dos antigos protetores. Ele foi
perdoado e receber a volta deles... Santo Deus! Somente os que passaram por
isso sabem dar o valor a essa reintegração mediúnica.
Todavia,
“zi-cerô”, não confunda esse caso de médiuns fracassados, com os daqueles que
tombam, exaustos pelo entrechoque das lutas astrais e humanas, em defesa de um
ideal – numa missão de esclarecimento e de verdade. Esses são 31 amparados, jamais abandonados e curados de
suas cicatrizes, para se reerguerem mais fortes do que dantes. Recebem o prêmio
pelo esforço despendido, enfim, por todos os sofrimentos que passaram pelas
traições e infâmias que perdoaram, quando lhes é dada a verdadeira Iniciação
pelo astral e lhes confere o sinal, pelo selo dos Magos que surge na palma de
suas mãos, a demonstrar-lhes que, de fato, “somente a verdade ficará de pé”...
É filho meu, para que dizer mais? Bem para a frente dessas lições, voltarei a
falar de assuntos semelhantes....
MATTA E SILVA
W.W - LIÇÕES UMBANDA E QUIMBANDA NA PALAVRA DE UM PRETO VELHO
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