domingo, 18 de julho de 2021

MEDO DA MORTE ?

 

 

 

Um homem transitava por estrada deserta, altas horas.

 

Noite escura, sem luar, estrelas apagadas... Seguia apreensivo. Por ali ocorriam, não raro, assaltos... percebeu que alguém o acompanhava.

 

Olá! Quem vem aí? - perguntou, assustado.

Não obteve resposta. Apressou-se, no que foi imitado pelo perseguidor. Correu... O desconhecido também.

 

Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um poste de luz.

 

Olhou para trás e, como por encanto, o medo desapareceu. Percebeu que seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos.

 

A história assemelha-se ao que ocorre com a morte.

 

A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera no Mundo Espiritual.

 

O Espiritismo é o poste de luz que ilumina os caminhos misteriosos do retorno, afugentando temores sem fundamento e constrangimentos perturbadores.

 

De forma racional, esclarece acerca da sobrevivência da alma, descerrando a cortina que separa os dois mundos.

 

Com a Doutrina Espírita aprendemos a encarar com serenidade a morte, que chamamos de desencarnação, porquanto ninguém morre.

 

Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos desencarnaremos um dia.

 

A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação.

 

Um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas.

 

Uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores.

 

Uma escola para os que já compreendem que a vida não é simples acidente biológico, nem a existência humana uma simples jornada recreativa. Mas não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde poderemos viver em plenitude, sem limitações impostas pelo corpo carnal.

 

Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar a nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.

 

O primeiro passo é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural...

 

Há condicionamentos milenares nesse sentido.

 

Existem pessoas que simplesmente se recusam a conceber o falecimento de um familiar ou o seu próprio.

 

Transferem o assunto para um futuro remoto. Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação.

 

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? - pergunta o Apóstolo Paulo, a demonstrar que a fé raciocinada supera os temores e angústias da grande transição, dando-nos a compreensão de que o fenômeno chamado morte nada mais é do que o passaporte para a  verdadeira vida.

 

O Espiritismo, se estudado, nos proporciona uma fé inabalável. O conhecimento de tudo o que nos espera, e a disposição de lutarmos para que nos espere o melhor.

 

Um dos maiores motivos de sofrimento no além túmulo, é o apego aos bens terrenos.

 

Muitas pessoas não aceitam as normas estabelecidas pela aduana do túmulo, que não nos permite levar os bens materiais no momento em que passamos para o outro lado.

Isso demonstra que tais pessoas ainda não entenderam que os bens materiais nos são  emprestados por Deus como meio de progresso, e que os teremos que devolver, mais cedo ou mais tarde.

 

É importante que reflitamos sobre isso, não nos deixando possuir pelos bens dos quais somos apenas usufrutuários.

 

Um dos motivos de sofrimento dos que ficam, é o fato de não terem se dedicado o quanto deviam àqueles dos quais se despedem.

 

Por isso, convém que, enquanto estamos a caminho, façamos o melhor que pudermos aos nossos afetos, para que o remorso não nos dilacere a alma depois.







sexta-feira, 9 de julho de 2021

NÃO HÁ MORTE




Depois que partiram do círculo carnal aqueles a quem amas, tens a impressão de que a vida perdeu a sua finalidade.

 

As horas ficaram vazias, enquanto uma angústia que te dilacera e uma surda desesperação que te mina as energias se fazem a constante dos teus momentos de demorada agonia. Estiveram ao teu lado como bênção de Deus, clareando o teu mundo de venturas com o lume da sua presença e não pensaste, não te permitiste acreditar na possibilidade de que eles te pudessem preceder na viagem de retorno.

 

Cessados os primeiros instantes do impacto que a realidade te impôs, recapitulas as horas de júbilo enquanto o pranto verte incessante, sem confortar-te, como se as lágrimas carregassem ácido que te requeima desde a fonte do sentimento à comporta dos olhos, não diminuindo a ardência da saudade…

 

Ante essa situação, o futuro se te desdobra sombrio, ameaçador, e interrogas como será possível prosseguir sem eles.

 

O teu coração pulsa destroçado e a tua dor moral se transforma em punhalada física, a revolver a lâmina que te macera em largo prazo.

 

Temes não suportar tão cruel sofrimento.

 

Conseguirás, porém, superá-lo.

 

Muito justas, sim, tuas saudades e sofrimentos.

 

Não, porém, a ponto de levar-te ao desequilíbrio, à morte da esperança, à revolta…

 

Os seres a quem amas e que morreram, não se consumiram na voragem do aniquilamento.

 

Eles sobreviveram.

 

A vida seria um engodo, se se destruísse ante o sopro desagregador da morte que passa.

 

A vida se manifesta, se desenvolve em infinitos matizes e incontáveis expressões. A forma se modifica e se estrutura, se agrega e se decompõe passando de uma para outra expressão vibratória sem que a energia que a vitaliza dependa das circunstâncias transitórias em que se exterioriza.

 

Não estão, portanto, mortos, no sentido de destruídos, os que transitaram ao teu lado e se transferiram de domicílio.

 

Prosseguem vivendo aqueles a quem amas.

 

Aguarda um pouco, enquanto, orando, a prece te luarize a alma e os envolvas no rumo por onde seguem.

 

Não te imponhas mentalmente com altas doses de mágoas, com interrogações pressionantes, arrojando na direção deles os petardos vigorosos da tua incontida aflição.

 

Esforça-te por encontrar a resignação.

 

O amor vence, quando verdadeiro, qualquer distância e é ponte entre abismos, encurtando caminhos.

 

Da mesma forma que anelas por volver a senti-los, a falar-lhes, a ouvir-lhes, eles também o desejam.

 

Necessitam, porém, evoluir, quanto tu próprio.

 

Se te prendes a eles demoradamente ou os encarceras no egoísmo, desejando continuar uma etapa que ora se encerrou, não os fruirás, porque estarão na retaguarda.

 

Libertando-os, eles prosseguirão contigo, preparar-te-ão o reencontro, aguardar-te-ão…

 

Faze-te, a teu turno, digno deles, da sua confiança, e unge-te de amor com que enriqueças outras vidas em memória deles, por afeição a eles.

 

Não penses mais em termos de adeus e, sim, em expressões de até logo mais.

 

Todos os homens na Terra são chamados a esse testemunho, o da temporária despedida. Considera, portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção e deixa que a reflexão sobre a morte faça parte do teu programa de assuntos mentais, com que te armarás, desde já, para o retorno, ou para enfrentar em paz a partida dos teus amores…

 

Quanto àqueles que viste partir, de quem sofres saudades infinitas e impreenchíveis vazios no sentimento, entrega-os a Deus, confiando-os e confiando-te ao Pai, na certeza de que, se souberes abrir a alma à esperança e a fé, conseguirás senti-los, ouvi-los, deles haurindo a confortadora energia com que te fortalecerás até ao instante da união sem dor, sem sombra, sem separação pelos caminhos do tempo sem fim, no amanhã ditoso.




 

(Do Livro: Sementes de Vida Eterna - de Divaldo Pereira Franco