A
marola do mar
Vem
chegando
E
as Caboclas Sereia
Descarregando
As pessoas que comparecem
à sessão de caridade num terreiro de Umbanda, preponderantemente estão com
algum transtorno ou algo as incomodando. Uma minoria vem com regularidade pelo
fato de gostar somente e não apresentam nenhum sofrimento aparente. Raríssimo
são os que assistem à palestra e não querem receber o passe por sentirem-se
bem. Como o médium passista doa fluídos e de regra nunca recebe de nenhum
consulente, se formos raciocinar com profundidade o passe deveria ser somente
para àqueles que realmente estão precisando. Existe uma cultura estabelecida
“papa passe” e se fôssemos deixar o portão do terreiro aberto muitos
compareceriam só na hora do passe e iriam embora – esta coisa de palestra é
muita chata pensam. Por que será que em outras religiões, como por exemplo, nas
missas católicas os presentes só recebem a hóstia após as preleções e da
eucaristia e ninguém chega de última hora? Pensemos que talvez caridade deva
ter hora certa para início e término não sendo assistencialismo que vulgariza
as sessões.
Diz-nos Vovó Maria Conga
que a Umbanda ainda é um saco de todos os gatos, e que se não colocarmos ordem
e disciplina nos ritos uma hora o saco vai rasgar, referindo-se aos que ficam
nos botecos bebendo e jogando sinuca ou em casa vendo a novela tomando a
cervejinha com o bife acebolado e saem correndo em cima da hora para não
perderem o passe no terreiro camarada. O saco rasgado é o médium extenuado que
é sugado até a última gota de seu fluído e ainda deixam nele um monturo
de lixo astral; peias magnéticas, larvas astrais, vibriões, enfim, toda sorte
de energias negativas que são despejadas juntamente com as lamúrias, choros e
pedidos de ajuda os mais diversos.
Mesmo após a defumação do
templo e das palestras que elevam o psiquismo dos presentes facilitando a
liberação de suas energias negativas, culminando com ritual de fogo antes da
abertura da sessão propriamente dita, o que é um potente elemento desintegrador
de miasmas e vibrações pesadas, ainda assim os consulentes entram para os
passes e consultas ensimesmados, com ideias fixas e presos às suas dores e
queixas e consequentemente também imantados aos obsessores diretos ou
indiretos, como o são os espíritos desencarnados que se lhes fixam-se nos
chacras com a finalidade de haurir suas energias animais.
Durante os passes e as
consultas ocorre grande movimentação astral e dentro do merecimento de cada um
são afastados obsessores, desmanchados campos de forças oriundos de magia
negativa, “mau olhado”, quebranto, e uma infinidade de resíduos energéticos
gerado pelos chacras desequilibrados que estão colados em torno do duplo etéreo
dos atendidos, literalmente parecendo um ar condicionado com o filtro sujo e
entupido que fica limpo e recondicionado após o atendimento.
Diferentemente das sessões
desobsessivas dos centros espíritas ortodoxos, em que os médiuns dão várias
passagens à manifestação de espíritos desalinhados e sofredores para serem
doutrinados, na Umbanda o medianeiro está vibrado por um guia que serve como se
fosse um escudo protetor. Mesmo assim o aparelho mediúnico muitas vezes ao
final dos trabalhos ressente-se tal o volume de “lixo astral” que fica
acumulado na área etérea contígua ao terreiro físico. O que faremos com todas
estas energias negativas? Deixá-las paradas num local que nos é sagrado e
cultuamos os orixás? Claro que não.
Não sei como certos
centros espíritas conseguem desintegrá-las “só” com a força da oração após
todas àquelas manifestações. Lembro-me que quando trabalhava na desobsessão
kardecista por várias vezes saia dos trabalhos com as pernas trêmulas,
sentindo-me enfraquecido e não era incomum sentir dor de cabeça e de barriga e
alternadamente ter pesadelos noturnos com os atendidos. Comecei a me fortalecer
quando retornei a frequentar a Umbanda até que um dia Caboclo Pery “proibiu-me”
de continuar no trabalho de mesa com sofredores sob pena de minha mediunidade
ficar em frangalhos e eu adquirir uma séria fadiga fluídica. Como meus chacras
e tônus mediúnico estão vibrados para trabalhar com as entidades ligadas a Umbanda
pela modalidade de incorporação, creio que isto acaba obstando um trabalho
concomitante nas hostes kardecista aos moldes habituais que eles usam na
desobsessão, o que é uma especificidade da minha mediunidade e não serve de
modelo para outros médiuns que atuam no kardecismo ao mesmo tempo em que nos
terreiros e não se ressentem energeticamente. Oportunamente, Caboclo Pery no
seu linguajar direto e simbólico me explicou melhor:
- Caboclo Pery: meu filho,
que adianta um carro moderno se a gasolina é colocada com impurezas no tanque?
Procure colocar um pouco de água lamacenta ao combustível e veja o que acontece
ao modelo mais tecnológico. É isto que ocorre em alguns centros espíritas. Usam
a gasolina que em associação é a prece, mas se esquecem da água lamacenta que
são os restos fluídicos deixados pelos espíritos atendidos e que se encontram
com seus corpos astrais em péssimos estados, iguais a andarilhos mendicantes.
Não se preocupam com o destino dos fluídos negativos. Esperam que façamos tudo
no plano espiritual como se fôssemos “santos” infalíveis. A própria barreira
magnética vibracional que se forma no plano denso, na crosta e nos corpos
físicos é de difícil superação a nós, quando não impossível frente a alguns
médiuns desalinhados no dia da tarefa caritativa. Alie-se a “desatenção” com
estas energias que não são descarregadas devidamente para a natureza à
desconcentração da corrente - o que muitas vezes se intensifica pela ausência
de ritual o que leva as mentes inquietas sem terem um ponto de apoio para a
concentração a “voarem por aí” como se fossem passarinhos fugindo das gaiolas -
coisa natural após dez a doze horas de trabalho profissional, crescido o
cansaço, fome e sono, e não tem mentor no plano espiritual que consiga fazer em
todas as sessões uma assepsia satisfatória no ambiente ao final dos trabalhos,
por eventualmente falharem os aparelhos na Terra, o que acaba servindo de
aprendizado aos médiuns vigilantes.
Como um bumerangue que volta ao lançador,
pode ficar os fluídos enfermiços em alguns médiuns mais sensíveis e os
sofredores do lado de cá saem aliviados. Aos menos se tomassem um bom banho de
arruda, coisa que já tem comprovação científica de suas propriedades
adstringentes e dispersivas, ao deitarem no descanso de seus lares teriam uma
boa noite de sono e no outro dia estariam “novos”. No seu caso pelo seu corpo
astral estar vibrado para a corrente mediúnica da Umbanda, ao não fazer a
descarga energética em nossos moldes, acabava a sua aparelhagem indiretamente
sendo a coletora do lixo astral que ficou no ambiente, o que se agravava pela
proibição da manifestação das entidades de Umbanda em sua sensibilidade ao
final dos trabalhos e por repercussão vibratória somatizava e criava as
enxaquecas e diarreias, o que na verdade é uma descarga energética orgânica.
Quanto aos pesadelos, nem sempre foi assédio de algum malfeitor do lado de cá.
Muitas vezes um cascão astral tem “memória” e ao ficar grudado na sua aura você
acabava recebendo em sua tela mental as impressões gravadas nesta egrégora,
como se vivo estivesse. O metabolismo do corpo físico rapidamente
desintegrava-o. Antes, contudo, fazendo-o sofrer, o que seria dispensável se
soubessem manipular os elementos e condensadores energéticos necessários para
desintegrar todos estes restos fluídicos deletérios. Há que se comentar que não
devemos generalizar. Por certo a maioria dos medianeiros espíritas sai bem ao
final dos trabalhos e não tem suas auras “abertas” para as peculiares vibrações
da Umbanda, como só acontecer com os trabalhos magísticos que exigem que o
médium umbandista durante o seu desenrolar seja usado como “armazenador”,
retendo nele – chacras - os fluídos pesados que são descarregados somente ao
término dos atendimentos.
Ao final das sessões,
encontros caritativos que às vezes são atendidos 150 consulentes, não é incomum
o ambiente ficar gelado, nossas mão frias e os médiuns pálidos. Outras vezes
sentimos taquicardia, sudorese, estufamento estomacal, dor abdominal e de
cabeça, nas pernas ou braços. Ficam montes de energias pesadas imantadas e
fixadas nos centros de forças dos orixás que temos dentro do terreiro.
Eventualmente ficam espíritos que devem ser encaminhados para os locais que
lhes são afins no astral, seja entreposto hospitalar socorrista ou para as suas
próprias organizações. Quando são devolvidos aos seus chefes, isto é terrível
para eles, mas nada os guias podem fazer pelo fato de ainda não terem alcançado
merecimento para socorro. Outros há que são encaminhados para a rua, no astral,
pois são perambulantes que estavam sugando os consulentes e sem darem-se conta
entraram no terreiro. Nenhum espírito que não seja mentor da Umbanda pode ficar
no ambiente astralizado que tangencia o terreiro, que deve ficar ionizado em
vibrações positivas como estava no inicio dos trabalhos. Os campos de força dos
orixás não podem ficar vibrando com negatividades humanas sob pena de se
comprometer o fluxo de axé – energia primordial e vital – mantenedora do congá
e da casa.
Então, com cânticos de
yemanjá, e o elemento aquático que se liga ao sitio vibracional do mar; Iansã e
elemento eólico que se enfeixa com as correntes aéreas; exu, que é movimento;
omulu, o elemento telúrico da terra em seu potente magnetismo de atração,...,
se dão as incorporações aos finais dos trabalhos re-energizando os médiuns e ao
mesmo tempo deslocando todos os fluídos negativos para a natureza
transmutadora. Esta dinâmica de descarga energética se apoia na utilização de
três alguidares – vasilhames de argila - água, cachaça e terra, que são jogados
ao final em um jardim e com o fogo – álcool- que é utilizado em todos os
trabalhos.
espiritualizandocomaumbanda.blogspot
Este texto faz parte do
livro "UMBANDA & SACERDÓCIO", no prelo pela Editora do
Conhecimento. Ao transcrever, mantenha os créditos )
Nenhum comentário:
Postar um comentário