O que é a Umbanda, o que
as pessoas procuram em uma casa umbandista, o que elas encontram... É certo que
normalmente buscam socorro para este ou para aquele problema, não
necessariamente orgânico, mas muitas vezes – e na maioria delas – de ordem
material, como problemas financeiros, sentimentais e até imobiliários. Mas será
que encontram o que vêm buscar? Será que entendem o que encontram – e que
muitas vezes é diferente do que buscavam? Para tentarmos responder a esses
questionamentos, comecemos por fazer uma analogia com outro local de socorro,
como um hospital.
Ao procurar um médico, em busca de
cura para um mal orgânico, o paciente pode encontrar três tipos de
diagnósticos:
1) seu problema é passageiro e possui cura;
2) não possui cura mas é controlado com medicações e tratamentos que
devem ser seguidos por toda a vida;
3) não possui cura e o doente tem que aprender a conviver com essa ideia
pelo tempo que lhe resta.
Quando uma pessoa expõe
seu problema ao preto-velho, ao caboclo ou um companheiro, a entidade
espiritual o analisa e, como no caso do mal orgânico, pode encontrar uma
solução simples ou não, pois há uma gama enorme de problemas espirituais que
podem interferir negativamente sobre a vida material da pessoa, e até mesmo
sobre o corpo físico.
Problemas considerados
"fáceis" de resolver pelas entidades espirituais – embora possam
trazer muitos transtornos – variam desde uma energia descontrolada que está
atingindo o campo vibratório do indivíduo, até a existência de um trabalho
feito ou um trabalho de magia negra. Muitas vezes, através de um banho de
ervas, de um passe ou, ainda, através do auxílio direto de algum amigo Companheiro,
vários desses problemas são imediatamente solucionados. Este grupo de
atribulações é comparado aquele primeiro grupo de doenças diagnosticadas pelo
médico: doenças passageiras, de fácil solução.
Há ainda alguns tipos de
problemas espirituais que se assemelham aos problemas orgânicos citados no item
2. São problemas espirituais que "não possuem cura", mas com os quais
pode-se conviver por toda a vida de forma satisfatória, bastando para isso que
sejam realizados os tratamentos periódicos necessários. Um exemplo típico é a
mediunidade ostensiva; aquela que, não estando trabalhada, não sendo utilizada,
contribui para o descontrole energético do indivíduo, causando uma série de
atribulações que passam a ser solucionadas desde o momento em que o médium
aprende a controlá-la e passa a trabalhar com ela periodicamente, obtendo o seu
equilíbrio. Se esse tratamento espiritual for interrompido, novos
desequilíbrios poderão ocorrer, retornando ao problema original. A solução para
este caso, na maioria das vezes, passa pelo trabalho espiritual frequente e
contínuo, seja em um templo umbandista ou em outra denominação religiosa.
Nesse ponto, ao tomar
ciência da solução para este problema, muitas pessoas desistem, por não
quererem se envolver com a responsabilidade do seu próprio tratamento, pois
esperavam, na verdade, que a solução para o seu próprio problema – que exige
esforço – fosse tomada por outrem, talvez pela entidade que lhe receitou o
trabalho contínuo.
Reação semelhante têm
outras pessoas quando um outro tipo de problema é diagnosticado pela entidade
benfeitora: a obsessão! Muitos acreditam que para resolver uma situação deste
naipe, ainda que nos casos de obsessão complexa, um passe, um descarrego, uma
obrigação poderia resolver. Isso não é verdade. Existem até alguns recursos
magísticos capazes de afastar temporariamente um egum – espírito desencarnado
normalmente em condições evolutivas precárias – da pessoa obsediada. Mas,
infelizmente, não há trabalho espiritual que livre uma pessoa definitivamente
de um processo obsessivo pois, mesmo que aquele egum seja definitivamente
afastado – através da doutrinação, por exemplo, outros perturbadores poderão se
aproximar enquanto o indivíduo alimentar pensamentos negativos, deixando-se
envolver por vícios e paixões diversas. Cabe aí, então, um outro tipo de
tratamento que dura a vida inteira, que é a busca pela reforma íntima, o
estudo, a análise de si mesmo e o vencimento da paixão. Tudo que dá muito
trabalho e que, na maioria das vezes a pessoa não está disposta abraçar. Sai,
então, do terreiro achando que não encontrou um templo “bom”, segundo suas próprias
palavras, e passa a circular por quantos lugares lhes forem indicados, em busca
de uma solução instantânea e que não lhe exija esforço pessoal para alcançar a
solução.
O terceiro tipo de
problema assemelha-se aquele diagnosticado como incurável pelo médico, e que
prosseguirá atuando negativamente sobre a pessoa até o fim de seus dias, não
obstante todas as medidas que sejam tomadas. Problemas deste tipo normalmente
são oportunidades de reajustes kármicos, que não possuem solução e que devem
ser vivenciados com a finalidade do aprendizado. Esperança para resolver
problemas assim é importante, e até ajuda a angariar auxílio espiritual para
suportar melhor a situação; mas, revolta não adianta e só prejudica a situação.
Infelizmente, esse tipo de
problema – de fundo kármico – é o que mais leva as pessoas a procurarem a
Umbanda, pois, quando procuram o terreiro, já tentaram outras possíveis
soluções anteriormente. Se for um mal orgânico, já consultaram vários médicos;
se for sentimental, profissional ou financeiro, já experimentaram conselhos e
novas atitudes, sem resultado satisfatório. Nesses casos, quando o caboclo ou o
preto-velho lhe explica sua condição kármica, revolta-se e passa a achar que o
terreiro não sabe como resolver seu problema, e passa a pular de galho em
galho, fazendo tantos “trabalhos” quantos lhes forem ensinados. Não sabem que
NENHUM guia ou entidade espiritual pode suprimir o karma de ninguém,
cabendo-lhes apenas auxiliar a transpor os espinhos com mais força e
resignação.
A partir daí, além de
hospital, a Umbanda pode passar a funcionar como escola, como fonte de
aprendizado, orientando, transmitindo os conhecimentos espirituais através dos
sábios conselhos de um preto-velho, de um caboclo ou de um exu. A Umbanda pode
ensinar, por exemplo, que ninguém está encarnado para não ter problemas, pois
se não precisássemos ter problemas, não teríamos karma a quitar e, por
conseguinte, não precisaríamos estar encarnados. Nesse sentido é importante que
a esperança e a confiança sejam fortalecidas, para que a pessoa não ache que,
somente pelo fato de pertencer à corrente mediúnica, automaticamente todos os
seus problemas deveriam ser evitados ou resolvidos. Grande decepção tem o
médium que ainda pensa assim, pois, cedo ou tarde, alguma atribulação
acontecerá em sua vida, atribulações essas que independerão de sua vontade e
que terão que ser, somente, suportadas.
Para quem busca a reforma
íntima, para quem quer evoluir espiritualmente, para quem não quer mais ser
fonte de sintonia mental para eguns e perturbadores, a Umbanda também possui
papel de valor. Através do trabalho espiritual, do auxílio ao próximo e do
estudo contínuo, naturalmente a mudança de faixa vibratória acontece;
naturalmente a mudança de foco na vida ocorre; os objetivos são alterados e a
pessoa passa a enxergar a experiência material de outra forma. É claro que não
sem algum esforço, mas com dedicação e boa vontade.
Nesse sentido, podemos
responder aos questionamentos elaborados no começo desse texto. Vimos que a
grande maioria das pessoas procuram a Umbanda, inicialmente, visando a solução
de algum problema. Algumas encontram de imediato o que procuram; outras
encontram respostas que sua preguiça ou vaidade impedem de acolher. Mas há
aquelas, ainda que, mesmo não encontrando exatamente a resposta que esperavam,
esforçam-se e, por fim, encontram uma Umbanda diferente daquela que imaginavam;
uma Umbanda que além de ser o pronto-socorro para muitos corações desalentados,
é também uma escola de vida e de prosperidade espiritual.
E quanto a nós? O que
temos buscado na Umbanda? Um passa tempo? A cura para um mal que depende apenas
de nós? Ou a força que precisamos para podermos progredir continuamente, com
coragem para lutar pelo que desejamos, com determinação para vencermos nossos
próprios defeitos e com resignação para aceitarmos os problemas que não têm
solução?
Os nossos pretos-velhos e
caboclos não fazem milagres; mas são amigos o suficiente para nos auxiliarem
quando puderem e também para nos chamar à razão quando a falta é nossa.
Saibamos usufruir dessa dádiva divina, que é a presença desses grandes
benfeitores ao nosso lado, sempre dispostos a escutar nossas lamúrias, a nos
aconselhar e a nos alertar contra nós mesmos, ainda nos momentos em que nos
supomos repletos de razão e, cegos pelas nossas paixões, não vemos a
oportunidade que temos em mãos de resgatarmos erros pregressos, cometidos em
vidas nas quais talvez não tenhamos tido um Guia para nos aconselhar.