Recapitulamos aqui as
noções de responsabilidade que devem nortear o médium para o bom exercício de
suas faculdades psíquicas. Em nossos estudos , até aqui, temos analisado a
importância de aspectos como o estudo, a meditação, o compromisso e a vivência evangélica,
como fatores decorrentes da conscientização de nosso papel de instrumentos da
Espiritualidade. Tudo isso nos remete à necessidade de se estabelecer uma
disciplina no sentido de fortalecermos a responsabilidade frente aos serviços
mediúnicos que abraçamos e sobretudo em nossas atividades rotineiras, fora da
Casa Espírita.
Como sabemos, somos
médiuns 24 horas ao dia e, como tal, é imperioso desenvolvermos e acalentarmos
princípios éticos que nos vão conduzir à prática da mediunidade com Jesus.
Não basta apenas sermos
capazes de produzir fenômenos – é preciso sermos cada vez mais bons
instrumentos a serviço dos Espíritos Superiores. No prefácio do livro “Nos
domínios da mediunidade”, o guia espiritual Emmanuel fala sobre a necessidade
de asilarmos o Cristo no coração e na consciência, sob pena de ficarmos
desorientados ao toque dos fenômenos. Segundo ele, “sem noção de
responsabilidade, sem devoção à prática do bem, sem amor ao estudo e sem
esforço perseverante em nosso próprio burilamento moral, é impraticável a
peregrinação libertadora para os Cimos da Vida”. Se nossa real intenção é a de
sermos bons médiuns, importa entendermos com clareza as noções de
responsabilidade e disciplina.
Longe de divisar, para o
medianeiro, falsas ideias de missões de avultada transcendência – somos, ainda,
médiuns de prova, certo? –, a responsabilidade de que falamos deve fazer
reconhecermo-nos “humildes portadores de tarefas comuns, conquanto graves e
importantes como as de qualquer outra pessoa”. Isto é o que nos diz André Luiz,
em “Conduta espírita”, acrescentando que “o seareiro do Cristo é sempre servo,
e servo do amor”. Nesse aspecto, é de grande relevância a necessidade de auto
evangelização: sem a vivência evangélica, aprendendo e praticando as lições de
doação abnegada deixadas por Jesus, nossa atuação medianímica será como a de
uma máquina que ao primeiro sinal de esgotamento será substituída.
Tratamos como seres tão
carentes como nós mesmos – na verdade, somos até mais necessitados, uma vez que
os Espíritos sofredores que ajudamos a atender vêm nos auxiliar em nosso
trabalho de aperfeiçoamento, a dizer-nos com seus exemplos que é preciso
transformarmo-nos para melhor. Temos, pois, necessidades a considerar e a
primeira delas, conforme Emmanuel, em “O Consolador”, é a de evangelizarmo-nos
a nós mesmos antes de nos entregarmos às grandes tarefas doutrinárias, quais as
reuniões mediúnicas. Porque de outro modo, pondera o nobre Espírito, poderemos
nos esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de nossa
missão.
Vivência evangélica e
moralidade
Bem se vê – pelo que se
disse mais atrás – que tal vivência implica no cultivo da moralidade, pois
pouco nos adianta conhecer a fundo o texto evangélico e nos comportarmos como
os “sepulcros caiados” que o Cristo criticou há dois mil anos, porquanto
irrepreensíveis na aparência e conspurcados na intimidade... “O primeiro
inimigo do médium reside dentro dele mesmo, reforça-nos Emmanuel.
Tal inimigo, diz o Mentor,
apresenta-se frequentemente como o personalismo, a ambição, a ignorância ou a
rebeldia no voluntário desconhecimento de nossos deveres à luz do Evangelho,
fatores de inferioridade moral que, não raro, nos conduzem à invigilância, à
leviandade e à confusão dos campos produtivos.
Mas há meio de nos safarmos:
“Contra esse inimigo é preciso movimentar as energias íntimas pelo estudo, pelo
cultivo da humildade, pela boa vontade, com o melhor esforço de auto educação,
à claridade do Evangelho”.
No capítulo XVI de “O
livro dos médiuns”, Allan Kardec, devidamente assessorado pelos Espíritos
Superiores, tece considerações acerca dos bons médiuns, classificando-os como
sérios, modestos, devotados e seguros. Assim como podemos encontrar todas essas
características em um só medianeiro, é possível também só observarmos algumas
delas, em se tratando daqueles militantes nas hostes espíritas.
O Codificador, porém,
traça aqueles caracteres hierarquicamente, ponto o aspecto da seriedade no
início da escala. Para Kardec, os médiuns sérios, pois, são “os que não se
servem de sua faculdade senão para o bem e para as coisas verdadeiramente
úteis; creem profana-la fazendo-a servir à satisfação de curiosos e de
indiferentes, ou para futilidades”.
Entendemos que alguém
nessas condições estará apto à modéstia, à devoção à causa abraçada e
principalmente à segurança no exercício de suas faculdades medianímicas.
De modo que “além da
facilidade de execução”, pondera o Codificador, “merecem plena confiança, por
seu próprio caráter, a natureza elevada dos Espíritos que os assistem, e que são
menos expostos a serem enganados”.
Assim, convém estarmos
atentos ao trabalho disciplinado e responsável, conscientes de que, como nos
alertam os Emissários do Cristo em O Livro dos Espíritos, “não fazer o bem já é
fazer o mal”.