Devemos interrogar a
própria consciência, passando em revista os atos cotidianos, para a
identificação dos desvios do deveres que deveriam ter sido cumpridos e dos
motivos alheios de queixa por conta dos nossos atos. Por este meio chegou ele,
Santo Agostinho, a se conhecer “e a ver o que [nele] precisava de reforma”.
Quem se disponha a
examinar os atos cotidianos para identificação do bem ou do mal que se possa
ter feito “grande força adquiriria para se aperfeiçoar”. Acresce ele que se
deve rogar a Deus e aos espíritos protetores esclarecimento, pois “Deus o
assistiria” neste sentido.
Propõe para o exame dos
atos cotidianos o dirigir a si mesmo perguntas, o interrogar-se sobre o que se
faz e com que propósito para identificarmos se fizemos algo que censuraríamos
se praticado por outra pessoa, e também se fizemos algo que não ousaríamos
confessar.
Propõe ainda mais,
fazendo-nos situar diante da vida na condição daquele que pode retornar ao
mundo dos Espíritos a qualquer instante, onde deveremos fazer o balanço dos
próprios atos praticados durante a experiência carnal: ao desembarcar no outro
lado da vida onde nada pode ser ocultado teríamos “que temer o olhar de
alguém”?
A prova de que podemos
descansar a consciência está em examinar se nada fizemos contra a Divindade, ao
próximo e a nós mesmos.
Porque seja difícil a
auto-avaliação, o auto-julgamento por conta das ilusões do amor-próprio, é
proposto como meio de verificação isento de ilusão perguntar a si mesmo como
classificaríamos nossas próprias ações, se praticadas por outras pessoas. Se
tivermos motivos para censurar tais ações, torna-se claro que não devemos agir
do mesmo modo.
Na mesma linha de
raciocínio, propõe ele que procuremos verificar o que pensam os outros sobre os
nossos atos. E mais: a opinião dos inimigos, por não terem nenhum interesse em
mascarar a verdade, não deve ser desprezada, pois eles são um bom meio de
advertência, utilizando-se com mais freqüência da franqueza do que faria um
amigo.
Aconselha ainda àqueles
que se sintam possuído do desejo sério de melhorar-se a investigar
minuciosamente a própria consciência a fim de extirpar de si os maus pendores.
E tal como ele próprio o fazia, que busquemos dar um balanço diário de nossas
ações morais, para avaliarmos perdas e lucros; os lucros serão maiores que as
perdas se assim agirmos.
Em seguida Santo Agostinho
afirma textualmente: “Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em
paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.” O seu dia, cremos nós,
deve ser entendido com a culminância de uma sucessão de dias. De qualquer
forma, indica-nos a necessidade de aproveitarmos bem todos os dias, dando
atenção ao tempo que costuma fugir-nos das mãos, caso não o administremos bem.
Como meio de auto-exame da
consciência, recomenda que formulemos “questões nítidas e precisas”, não
temendo multiplicá-las, de modo a nos interrogarmos acerca de nossos próprios
atos. Este diálogo íntimo, que não toma mais que alguns minutos e “alguns
esforços”, é meio de conquista da “felicidade eterna”.
Posto que muitos têm o
futuro como incerto, é que os espíritos vêm dissipar as nossas incertezas “por
meio de fenômenos” capazes de nos ferir os sentidos e de “instruções” (que nos
cabe, por nossa vez, também disseminar).
O comentário breve de
Kardec a esta resposta é digno também de exame. E para tanto tomamos a
liberdade de transcrevê-lo literalmente:
Muitas faltas que
cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de
Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos
quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a
natureza e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de
mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós
mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou não, que não abrem
lugar para qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E,
pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal
que existe em nós.
ABEL SIDNEY SONCA PORTAL DO ESPÍRITO
Nenhum comentário:
Postar um comentário