"O ritual do terreiro é preciso para ordenamento dos trabalhos. As
formas cultuadas servem de apoios mentais, que vos levam a firmar os
pensamentos em breves instantes, auxiliando-nos para o rebaixamento vibratório
das energias dos orixás ao qual viemos apoiados para fazermos a caridade na
Terra.
A disciplina externa deve estar casada
com a ordem interna dos médiuns, sendo o templo de fora um reflexo da
"igreja" de dentro de cada criatura que comparece a sessão da noite
em que serão atendidas centenas entre encarnados e desencarnados.
A harmonia, ou como vocês dizem na
Terra, o ponto de equilíbrio, é alcançado na superação das fragilidades
individuais, sustentada no esforço intencional de servir ao próximo, renovado
em cada encontro semanal. A vontade alicerçada no livre arbítrio e no amor
incondicional ao semelhante e para com o Sagrado é a maior fortaleza de cada um
na caminhada em prol da evolução individual, sendo Jesus o maior exemplo desta
disposição interna."
Caboclo Pery
* * *
Somos naturalmente desconcentrados.
Conseguimos prestar atenção em uma palestra sem ficarmos dispersivos
aproximadamente por seis minutos. Os gestos, palavras, movimentos e sons que
caracterizam um ritual, de valor simbólico previamente conhecido dos
participantes do rito, repetido com regularidade, em intervalos que se repetem,
favorecem a concentração e criam um condicionamento mental individual e
coletivo que propicia um automatismo salutar na sintonia mediúnica. Por
exemplo, diante o ponto cantado da entidade quando o médium está “pronto”,
imediatamente ocorre a incorporação mediúnica.
Um ritual é uma forma de organização, um
método sistematizado, que objetiva disciplinar e dar uniformidade aos
pensamentos através de estímulos sensórios externos que são interiorizados no
psiquismo. A repetição metódica e regular dos cânticos, a visão das imagens em
comum a todos os componentes do terreiro, dispostos de frente para o congá; os
atabaques, os cheiros, a defumação, as cores, os movimentos repetitivos,
favorecem o condicionamento anímico e a entrega passiva dos médiuns que darão
sustentação à corrente, fortalecendo o intercâmbio mediúnico.
Na umbanda, existem vários tipos de
rituais dependendo do terreiro. Variam diante a necessidade espiritual do grupo
e dos frequentadores da casa. Não vamos descrever nenhum pela enorme
diversidade em nossa religião e cremos que a finalidade não é
esta.
Evidenciamos ainda o aspecto social do
ritual que une os seus praticantes em respeito e cumplicidade, além de
estreitar os laços de amizade.
Um terreiro de Umbanda é um local sagrado
para o culto aos Orixás. Entidades espirituais que estão presentes precisam de
um ambiente magnetizado positivamente para a fixação e manutenção de suas
energias no local; o espaço físico-astral consagrado pela fé e confiança dos frequentadores,
tanto da assistência como do corpo mediúnico que se confunde num só, sendo o
lado daqui uma consequência do lado de lá, que geralmente é bem mais amplo.
Serve para a invocação, evocação e ligação mediúnica com os espíritos guias que
se apresentam para a realização dos trabalhos de caridade.
Há que se comentar que a diversidade de
culto é consequência inequívoca da fragmentação religiosa existente na
consciência coletiva, diversidade esta que se intensifica na umbanda por sua
universalidade convergente. A forma de cultuarmos o sagrado no interior dos
terreiros não deve ser motivo de separatismos. A unidade na umbanda não
significa igualdade e as diferenças devem unir e não separar.
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