“Orai e vigiai“, essas são
as palavras que alguns de nós ouvimos com frequência. A prece é uma forma de
meditação, e vigiar os próprios pensamentos, em busca de aproximar-se do ser
equilibrado, livre de qualquer sentimento oposto à Religião (orgulho,
preconceito, inveja, e etc.). Por que esses dois elementos são tão importantes?
Se nós, médiuns, somos o instrumento pelo qual os orixás se comunicam com os
demais, nos encontramos na mesma posição da Igreja na Obra anteriormente
citada, o intermédio.
Ao ver deste mero
escritor, que vos dedica esse simplório texto, o médium deve ser como uma linha
de conexão sem interferências. Caso não medite sobre a sua condição e não vigie
os seus pensamentos, ele, consequentemente, tenderá a interferir na mensagem
enviada pelo Espírito de Luz. E quantas vezes não vimos este fato? O médium usa
de seu orixá, um ser mensageiro, de luz esclarecedora e imparcialidade
absoluta, para fins mesquinhos, como forçar a vontade alheia através de uma,
suposta, sabida mensagem.
Dificilmente um médium
ficará TOTALMENTE inconsciente quando incorporado. O caso se assemelha a água e
óleo, que, colocados em um único copo, tem contato, tornando-se uma só porção,
contudo não se misturam!
Essa visão sobre o
objetivo do médium explica, ainda que de forma simplória, o verdadeiro motivo
do “por que estudar sobre umbanda”. A compreensão do Livro dos Espíritos é tão
importante como a do Livro dos Médiuns. A posição intermediária exige que o
médium seja presente como ferramenta e ausente como formador de opinião, pois
até mesmo a amizade entre o médium e a pessoa, que veio a esse em busca de uma
mensagem, pode alterar a real Matéria dita pelo orixá, se não houver separação
entre os interesses do médium e o objetivo central da prática.
Mas o que é
necessário para a conduta imparcial do médium?
Acredito que não seja
estranha a prática de banhos de ervas (objeto já tratado por nós), acender
velas específicas (aos orixás ou ao anjo de guarda) ou, ainda, a leitura de
livros indicados pela Casa de Caridade. Bem, esses são os principais fatores
para a conduta do médium. Mas como um simples banho, um acender de velas ou um
folear de páginas refletem nas atitudes?
Alguns de nós já fomos
orientados sobre a necessidade de deixar os nossos problemas “da porta para
fora” das casas de orações. Essa simples frase tem um fundamento imenso. O fato
de não deixar que o seu cotidiano interfira na prática religiosa contribui,
diretamente, na qualidade da conexão que se tem com os guias espirituais. Tal
qual a preparação que se tem anteriormente ao trabalho, propriamente dito.
É comum termos a sensação,
quando iniciantes, de ansiedade logo que acordamos e sabemos que é dia de gira.
Afinal, não é qualquer dia, você irá ter contato com os Orixás. A forma com que
o dia se procede é totalmente diferente dos demais, e de tempo em tempo olhamos
para o relógio. Chega-se em casa, toma-se um banho de ervas, específicas para
aquela gíria, coloca-se a roupa própria e se pega as guias (missangas). Quando,
finalmente, chegamos no local do culto, cumprimentamos felizes, e, antes mesmo
de começar o trabalho, fazemos uma oração. A abertura é feita e logo se tem
contato com os orixás dos médiuns mais antigos. Uma mensagem é dada e nos faz
refletir, comparando-a com uma outra vista num livro ou já comentada por
outrem. A hora de incorporar chega e a cabeça vai à mil e as sensações são
diversas, principalmente no começo. A gira chega ao fim, mas sabemos que tudo
foi parte de uma grande experiência, e aguardamos a próxima, mais uma vez,
ansiosamente.
O que eu acabei de
descrever, acredito eu, foi vivenciado pela maioria dos médiuns, ainda que as
situações se limitassem à “semelhante”. Mas a pergunta ainda não foi
respondida: Como tudo isso pode influenciar? A preparação espiritual no dia,
descrito no parágrafo anterior, deixa o médium em estado neutro, pronto para
executar a sua função com harmonia com o meio, sem nenhuma carga negativa que o
impeça. O banho de ervas tem a função de equilibrar as energias, a vela
específica para o orixá cultuado no dia gera uma conexão preliminar e os
ensinamentos cultivam a doutrina, tornando o médium hábil, mentalmente, para
conciliar e discernir suas próprias ideias as mensagens.
O banho, as velas e os
livros são fatores importantes sim, mas os sentimentos solidários estão acima,
são os elementos que refletem a conduta do médium. Um médium com verdadeira
vontade solidária, não permite a sobreposição da sua vontade a mensagem do
Guia, ainda que a verdadeira mensagem seja oposta aos seus pensamentos, pois
ele sabe que a Fonte age em prol do bem, e aquela pessoa que veio a ele em
busca do guia, acreditou na sua capacidade mediúnica de transmitir a mensagem sem
interferência alguma, como se, de fato, a pessoa-médium não estivesse mais ali.
Hoje, como na época do
Padre Antônio Vieira, a obrigação de transmitir a mensagem está intrinsecamente
ligada à absorção do destinatário. Se o método deve atualizar-se na medida em
que a realidade muda, devemos nós, umbandistas, agir conjuntamente aos nossos
guias na medida das nossas funções. Porque nas diferenças entre as nossas e as
funções dos orixás encontram-se o encaixe perfeito, que ao ver deste mero
palpiteiro, tornando possível a prática da verdadeira Umbanda.
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