quarta-feira, 9 de julho de 2014

MAUS PENSAMENTOS




        O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no assoalho da casa.

        Seu Pai, que estava indo para o quintal fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o menino para uma conversa.

        Zeca, de oito anos de idade, o acompanha desconfiado.

        Antes que seu pai dissesse alguma coisa , fala irritado:

        --- Pai, estou com muita raiva. O Juca não devia ter feito aquilo comigo. Desejo tudo de ruim para ele.

        Seu pai, um homem simples mas cheio de sabedoria, escuta, calmamente, o filho que continua a reclamar:

        --- O Juca me humilhou na frente dos meus amigos; não aceito; gostaria que ele ficasse doente sem poder ir à escola.

        O pai escuta tudo calado enquanto caminha até o abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o acompanhou, calado.

        Zeca vê o saco aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer uma pergunta, o pai lhe propõe algo:

         --- Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amiguinho Juca e cada pedaço de carvão é um mau pensamento seu, endereçado a ele. Quero que você jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.

        O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra.
        O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertaram o alvo.

        Uma hora se passou e o menino terminou a tarefa.
        O pai, que espiava tudo de longe, se aproxima do menino e lhe pergunta:

         --- Filho, como está se sentindo agora?

        --- Estou cansado mais estou alegre porque acertei muitos pedaços de carvão na camisa.

        O pai olha para o menino, que fica sem entender a razão daquela brincadeira, e carinhoso lhe fala:

         --- Venha comigo até o meu quarto, quero lhe mostrar uma coisa.

        O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado na frente de um grande espelho onde pode ver seu corpo todo.

        Que susto! Só se conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos.

        O pai, então, lhe diz ternamente:

         --- Filho, você viu que a camisa quase não se sujou; mas, olhe só para você. O mau que desejamos aos outros é como o que lhe aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com nossos pensamentos, a borra, os resíduos, a fuligem ficam sempre em nós mesmos.

         Zeca teceu um sorriso envergonhado e falou feliz:

         --- Vou tomar um banho e depois lavar a camisa.













                        (João Bonon Netto)

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