O desapego é a parte
fundamental do processo evolutivo. De fato, sem o desapego, esse processo
torna-se lento e pouco produtivo, pois que está no desprendimento a raiz para a
experiência da felicidade e do amor incondicional. Sem o desapego, o sofrimento
então tem total liberdade de adentrar na vida das pessoas.
O apego surge naturalmente
a partir do momento em que a mente cria uma imagem e, por conseguinte, um
vínculo com uma pessoa ou um objeto. E esse vínculo traz segurança para a
pessoa, uma vez que está baseado numa imagem pré-estabelecida. Todavia tal
criação é puramente mental e fundamentada a princípio na falta de
autoconhecimento.
Deste modo, mesmo que o
caro leitor agora já esteja desperto e já tenha avançado muito em seu
desenvolvimento pessoal, ainda assim passou a maior parte de sua vida criando
imagens a respeito de tudo, portanto criando vínculos ou pré-conceitos. Logo,
no ponto em que se encontra, ainda há muito a ser revisto a respeito do mundo e
das pessoas ao redor.
Quando o apego surge,
temos então o sofrimento, pois que nos identificamos com tudo, positiva ou
negativamente, e quando algo abala a imagem que criamos, então experimentamos o
sofrimento e seus desdobramentos como ódio, tristeza, ojeriza, depressão,
saudosismo, etc.
Eis então o porquê da
importância de aprender a permanecer sempre no presente. Pois todas as imagens
são baseadas em lembranças ou em imaginação. Quando estamos no agora, as
imagens são apenas reflexos de outras linhas de percepção temporal, todavia
podem ser encaradas de outra maneira, levando-nos a desconstruir todos os
nossos conceitos a respeito de algo.
O estado de pura
consciência consiste em acordar todas as manhãs como se fosse o primeiro dia de
nossas vidas. Pois isso leva a ver e a observar as coisas sem pré-conceitos ou
imagens, vendo-as como são e não como achamos que são. Esse estado de pura
consciência é parecido com o que as crianças de colo experimentam; a diferença
é que o nosso intelecto já está desenvolvido, assim sendo temos consciência de
que temos consciência.
Portanto a criança observa
o mundo de maneira desprendida, vendo tudo como algo novo e de ramificações
incríveis. Tudo é novidade, portanto tudo é observado com bastante interesse.
Esse estado precisa ser readquirido na fase adulta, porém devido às influências
da sociedade, das religiões e dos pais, nossos egos ganham força e perdemos a
simplicidade da observação.
Deste modo, o primeiro
passo para o desapego é destruir todas as imagens que se cria a respeito de
algo ou alguém. Logo, se você vê seu cônjuge como sua fortaleza, destrua-a
agora! Veja seu companheiro como se fosse a primeira vez, sem julgamentos, sem
imagens, sem pré-conceitos, sem tentar compreender de maneira intelectual a
outra pessoa. Apenas observe e aproveite o momento.
Da mesma forma, não veja
mais o seu filho como algo pertencente a você. Ele é livre e precisa expressar
essa liberdade. E se ele já está crescido, apague todas as imagens de quando
ele era criança, do contrário você continuará vinculado a uma imagem que já não
mais corresponde ao que se apresenta no agora.
Na verdade, nenhuma imagem
que criamos corresponde à verdade. Todas elas são apenas projeções pessoais que
acabamos encarando como algo alheio a nós. É preciso que as pessoas aprendam a
ver as coisas de maneira pura, sem véus e sem filtros.
Quando observamos as
coisas sem a criação de imagens, não apenas o desapego surge, como também a
primeira fagulha de um amor verdadeiro, mais profundo, pois começamos a ver as
outras pessoas como elas são por detrás de todas as máscaras, de todos os
condicionamentos, inclusive dos nossos próprios.
E essa nudez é o que
realmente nos aproxima uns dos outros. É a partir dela que começamos a
realmente nos tornar apenas um.
Trecho do livro
"Potencialidade Pura", Marcos Keld
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