quinta-feira, 23 de abril de 2015

SALVE JORGE



Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
São Jorge Rogai por Nós.



São Jorge sempre despertou nos mais variados povos da Antiguidade, e ainda hoje, o fascínio de uma divindade que mesclava a força, a energia criativa, à proteção do guerreiro, daquele que traz consigo o poder da terra e dos veios ferrosos. O ferro, enquanto matéria prima imprescindível para a confecção das armas que manteriam determinada sociedade em condições de lutar pela sua sobrevivência, associou-se a vários outros símbolos que culminaram por forjar o famoso “Santo Guerreiro”. O povo brasileiro, muito associado ao Santo em questão, possui a mestiçagem de ancestrais que de alguma forma estiveram em contato com o vasto simbolismo que São Jorge nos ensina: a força da terra, com suas matas e grutas em pedra; a guerra e o cavaleiro; o ferro e a forja no fogo; um alfabeto mágico; o dragão e os veios energéticos que marcam os terrenos das sociedades. O São Jorge que ora se apresenta nestas linhas é a tentativa de mostrar o elo entre muitas culturas, inúmeros simbolismos, mesmo arquétipos que uniram povos desde o norte da Europa até os nossos ancestrais portugueses e africanos. Esse é o caso da aproximação realizada nos rituais umbandistas, em território brasileiro, entre o santo católico e o Orixá Ogum.

Lenda ou história? A versão popular

Por volta do final do século III, São Jorge teria nascido na região da Capadócia, atual Turquia. Ainda criança perdeu o seu pai, e sua mãe o levou para a Palestina, educando-o para a carreira militar. Sua dedicação e habilidade levaram o imperador Diocleciano a lhe conferir o título de Tribuno. Jorge torna-se cristão, mas com a idade de vinte e três anos passou a residir na corte imperial romana, exercendo altas funções.

Em determinado momento o Imperador Diocleciano planejou matar todos os cristãos que poderiam ameaçar o poder em seu Império. No dia marcado para o Senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se na assembleia e declarou-se contra aquela decisão.

Defendeu com tanta força a sua fé que provocou a ira do Imperador, que tentou fazê-lo desistir de suas ideias, chegando até a tortura. Era periodicamente levado a Diocleciano, que exigia a Jorge que renegasse a sua fé, o que não aconteceu. O Imperador, não tendo êxito, mandou degolar o mártir cristão no dia 23 de abril de 303 d.C., sendo este o dia dedicado a São Jorge.

São Jorge em Portugal e na Inglaterra

A importância de São Jorge é tamanha entre os portugueses que a influência do Santo Guerreiro surge ligada às armas através do sincretismo cristão, séculos após os primeiros povos celtas terem habitado as terras lusas. Algumas fortificações medievais e posteriores possuem ainda o seu nome, o que aumentou ainda mais o sincretismo de São Jorge com a arte da guerra e da vitória sobre os inimigos da fé e da soberania de uma nação. O primeiro bastião que não pode ser esquecido é o Castelo de São Jorge, talvez o mais famoso deles, localizado em uma das colinas de Lisboa e construído, provavelmente, no século II a.C..

Quando da Reconquista cristã as forças de D. Afonso Henriques (1112-1185), com o auxílio de vários povos cruzados (principalmente normandos, flamengos, alemães e ingleses) que se dirigiam à Terra Santa, investiu contra esta que era uma fortificação muçulmana, que acabou capitulando em 1147 após um cerco de três meses. Provavelmente, sob a influência da cultura das ilhas da Bretanha, já presente nas terras portuguesas ancestralmente, e fortalecidas pelo contato intercultural das Cruzadas, a devoção a São Jorge estabelece-se em Portugal de vez. Após a vitória o castelo em Lisboa foi colocado, por gratidão, sob a proteção do mártir São Jorge, a quem muitos cruzados na época já dedicavam forte devoção. O dia da conquista, 25 de Outubro, passou a ser o Dia do Exército em Portugal, sendo esta uma instituição que possui São Jorge como padroeiro.

Poucas décadas mais tarde, entre 1179 e 1183, o castelo ainda resistiu com sucesso às forças muçulmanas que assolaram a região entre Lisboa e Santarém. E foi no reinado de D. Afonso IV (1291-1357), chamado de “o Bravo”, que o uso do grito de guerra “São Jorge” se tornou regra, substituindo o grito anterior dos portugueses que era “Santiago”. D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) considerou São Jorge o responsável pela famosa vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota . Como o Rei D. João I de Portugal também era devoto do santo, substituiu São Jorge a Santiago como patrono de Portugal. Em 1387, D. João I ordenou que a imagem do santo, montado a cavalo, fosse transportada na procissão católica do corpo de Cristo. Assim, séculos mais tarde, essa imagem também chegaria ao Brasil.

Curiosamente, o cavalo era um animal nobre entre os celtas, justamente por ser um servidor dos homens nas guerras. Viriam de outro mundo oculto, e eram tidos como possuidores de inteligência humana. Após a morte do herói ou do cavaleiro, retornaria para esse outro mundo superior, e com isso passaram a ser vistos também como condutores das almas.

Há, também, o Castelo de São Jorge da Mina, também designado por Castelo da Mina, ou Feitoria da Mina, e posteriormente chamado por Fortaleza de São Jorge da Mina. Localiza-se na atual cidade de Elmina, Gana, litoral da África Ocidental. A “Mina” já funcionava em meados do século XV, e teve a função inicial de assegurar a soberania e o comércio de Portugal no Golfo da Guiné, constituindo-se no seu principal estabelecimento na costa africana, fonte da riqueza que alimentou a economia do país até se iniciar o ciclo da Índia após a viagem de Vasco da Gama em 1498.

A Inglaterra, aliada histórica dos portugueses, foi o país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante. O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330, pois a imagem de santo guerreiro, ligado às espadas, já existia. Por considerá-lo a imagem perfeita dos cavaleiros medievais, o rei inglês Ricardo I, comandante de uma das Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam conquistar a Terra Santa aos muçulmanos.

No século XIII, a Inglaterra já celebrava o nome de São Jorge, e em 1348 surge a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses adotaram definitivamente São Jorge como padroeiro do país, trazendo também a sua cruz vermelha (cor do sangue, do fogo e do sacrifício pelas grandes causas) na bandeira de fundo branco (cor da pureza).

Ogum e São Jorge: sincretismo, dimensões simbólicas e arquetípicas Filho de Iemanjá, Ogum tem sua importância destacada pela ligação com os metais, principalmente o ferro, matéria-prima básica para os instrumentos utilizados por caçadores e agricultores. É associado atualmente à metalurgia e à siderurgia, representando, dentro do panteão africano, um símbolo da Revolução Industrial. Não é a toa que muitas das oferendas à Ogum são realizadas em ferrovias, simbolizando a abertura dos caminhos diante do elemento ferro17. Este elemento simboliza a transformação, já que as ferramentas em ferro se tornam úteis (interação) à produção no momento em que são forjadas em altas temperaturas (o fogo simbolizando o potencial criativo da mente). O ferro, portanto, é o símbolo dos objetos que servem aos seres humanos, tornando-os produtivos à sociedade e salvando-os do mal, fato que pode ser percebido na espada de São Jorge.

Além disso, Ogum representa a capacidade do ser humano de controlar a natureza e utilizá-la para o benefício de todos. Por conta dos metais, Ogum passou a ser associado à guerra, desviando seu papel de comandante das atividades agrícolas para a atividade bélica e passando a ser o “Vencedor das demandas”.

Tendo como elementos centrais a guerra e a metalurgia, Ogum, ferreiro e guerreiro, pode ser associado ao deus romano da guerra, Marte, que tem como correspondente Ares, o deus grego, o vingador, assim como com Vulcano e Hefesto, respectivamente os deuses romano e grego do fogo, que possuíam a arte de forjar o ferro.

Acompanhado por Éris (Discórdis), Deimos (Terror), Phóbos (Medo) e Enio (Devastadora), Ares, proveniente da Trácia, norte grego, apresentava-se com lança, capacete e armadura em suas batalhas, levando a morte a e destruição por onde passava. Associado ao movimento, ao ferro, ao vermelho e à coragem, Ares pode nos revelar as “forças primitivas, instintivas e selvagens em luta com forças atuantes na consciência”, cuja energia decorrente se relaciona diretamente com a competição e a vontade de seguir em frente, lutando e vencendo as batalhas.
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Já com Vulcano/Hefesto, o ourives divino, o simbolismo do artesão, que forja o ferro utilizando o fogo dos vulcões, ou seja, a energia desprendida do inconsciente pode representar a união concreta e abstrata entre arte e técnica20. A libido (vulcão) se manifesta para a realização das ações e vivência plena, concretizadas nos objetos criados a partir da manipulação e transformação dos metais, expressão de uma “erupção” de ideias e potencialidades mágicas que equivalem à evolução da tecnologia no intuito de dominar, comandar, desbravar e punir.
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Através da mitologia dos Orixás africanos, podemos perceber algumas semelhanças entre as divindades greco-romanas citadas anteriormente e Ogum, o grande guerreiro e  manipulador dos metais.


























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