Não é preciso nenhum
esforço para perceber o quanto é difícil viver de forma harmoniosa. Parece que
o tempo todo somos testados para sair do prumo, para dizer verdades, cair na
culpa, ou chorar no silêncio. E apesar desse tipo de comportamento ser mais observado
em nós, mulheres, os homens também não escapam desse aprendizado.
Trabalhando com pessoas e
espiritualidade a vida inteira, percebo que mais difícil do que se conectar com
Deus é vê-lo no semelhante, e quanto mais próxima essa pessoa for, quase sempre
é ainda mais difícil. Porque quando nos conectamos com Deus precisamos nos
abrir, deixar fluir sua Luz, receber e aceitar aquilo que nos acontecer com
alegria, porque será aquilo que vamos ter...
Para falar a verdade,
tenho que confidenciar que nunca fui muito de aceitar as coisas do jeito que
elas são. Sempre lutei, tentei melhorar, arrumar, entender, tudo isso que a
gente costuma fazer para se dar bem com as pessoas, mas com Deus o negócio é
diferente, porque não terá aquela vez que Ele, o Todo-Poderoso terá que ceder
aos nossos caprichos.
No caso da nossa relação
com Deus, sempre nos restará aceitar o que nos couber, porque a palavra final é
Dele e sempre será. Agora, nos relacionamentos, não lidamos com almas puras,
iluminadas que querem apenas o nosso bem. Lidamos com pessoas, com caprichos,
com mágoas guardadas, com histórias de vida, às vezes, completamente diferente
das nossas.
E o que fazer? Que língua
falar com esta pessoa que está no nosso caminho, e com a qual precisamos nos
relacionar, se não com amor, pelo menos de uma forma gentil, delicada?
Costuma ser nesse momento
de impasse que as pessoas me procuram para entender do passado. Nessas horas em
que já tentaram de tudo e não conseguiram alcançar seus intentos e geralmente
acabo compartilhando boas e más notícias. As boas são que sempre podemos nos
libertar do passado, de relacionamentos kármicos, de pessoas e situações
pesadas que carregamos, e as más se referem a aceitar certos aprendizados que
fazem parte da evolução e compreender que não mudamos as pessoas.
Isso tudo pode parecer
lógico para alguns e, no mínimo, irritante para tantos outros, mas ainda que
não gostemos, teremos que aceitar o fato de que a felicidade na nossa vida
depende de nós e não de circunstâncias externas, e que lidar com a vida poderá
ser mais leve se relevarmos muitas coisas.
Percebi que pessoas
tristes, emocionalmente pesadas, costumam carregar muitas mágoas e muitas
esperanças frustradas, algumas que de fato poderiam ter dado certo, e outras em
que nunca tiveram muita chance, porém, o desapego nem sempre é natural como
poderia ser.
Os mentores ensinam que
conviver em família, no amor e mesmo no trabalho, é o buril da nossa evolução.
E justamente por isso tende a ser o maior desafio na vida das pessoas. Porque
conviver significa colocar em prática tudo aquilo que fomos, desde a infância,
convidados a aprender, como o respeito aos pais, às pessoas mais velhas,
doentes, e mesmo amigos e familiares em maus momentos. Precisamos respeitar as
pessoas e quando percebemos que seremos respeitados mas que o outro não tem a
sabedoria de nos tratar como merecemos, o único caminho é se afastar, se não
fisicamente (porque nem sempre isso é possível), saibamos ao menos observar
quem é a pessoa e o que ela poderá nos oferecer...
Conviver é também sinônimo
de sabedoria, de treino de amor que oferecemos ao outro e a nós mesmos. Porque
não há como amar alguém sem se aperceber de oferecer primeiro amor a nós
mesmos, e que se agirmos assim com mais autoestima, com certeza, não nos
magoaremos com tanta facilidade. Mas, se no caminho da vida surgirem as
inevitáveis frustrações, não podemos esquecer que esta existência é um
exercício para o nosso espírito que é eterno e muito maior que os nossos altos
e baixos. E é por isso que, constantemente, vamos e voltamos para Deus, porque
é Ele que sempre pode nos ajudar a viver com mais amor e mais luz. Ele é o
nosso mais fiel amor e companheiro, ainda que não faça sempre o nosso
gosto."
Maria Silvia Orlovas
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