domingo, 15 de novembro de 2015

SALVE A NOSSA UMBANDA QUERIDA










No dia 15 de novembro de 1908 o médium Zélio Fernandino de Moraes estava em Niterói e foi surpreendido por uma paralisia inexplicável pela medicina e, logo em seguida, uma melhora igualmente inexplicável. Em visita à Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro recebeu, de forma mediúnica, a graça do contato com o Espírito que se identificou como Caboclo Sete Encruzilhadas, de quem recebeu a missão de fundar o novo culto.

Primórdios da Umbanda

José Fonseca, no texto ”A Umbanda Brasileira”, de 1978, fala sobre o dia da Umbanda com mais detalhes. Segue um trecho:

“Entre as datas sugeridas – 13 de Maio, consagrada aos Pretos Velhos –  e 22 de Novembro – dia de Arariboia –  venceu por unanimidade 15 de Novembro.  Nessa data,  em 1908,  manifestou-se pela primeira vez,  numa sessão da Federação Espírita,  em Niterói,  uma entidade que declarou trazer a missão de estabelecer um culto,  no qual os espíritos de índios e de escravos poderiam desenvolver seu trabalho espiritual,  organizado no plano astral do Brasil.

Na época,  esses espíritos aproximavam-se das reuniões espíritas,  mas as suas mensagens eram recusadas,  por serem eles considerados atrasados,  tendo em vista a condição de humildade com que se identificavam. A entidade,  que se apresentou aos videntes como um mentor espiritual,  deu o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

No dia seguinte,  verdadeira multidão compareceu à residência do médium – um jovem de 17 anos,  Zélio Fernandino de Moraes,  de tradicional família fluminense.  A entidade manifestou-se e determinou as normas do novo culto,  que teria o nome de “Umbanda”, declarando fundado o primeiro “terreiro de Umbanda”,  cuja prática seria exclusivamente a caridade espiritual,  através de passes, desobsessões e curas de enfermos.”

Estabelecia-se, então, uma religião tipicamente brasileira, como a sociedade misturada que é em todos os seus aspectos, que aceitava Espíritos de todos os graus de evolução e passaram por várias experiências e encarnações, talvez até mais próximas da realidade nossa de seres encarnados, eternos aprendizes.

Como todos os Umbandistas sabem, a história não é, realmente, tão simples quanto conta-la, pois o preconceito vindo de todas as partes continua sendo um elemento complicador do exercício da Umbanda. Muitas fábulas e contos narram diálogos entre espíritos ainda muito humanizados, seguindo o pensamento descrito por Fonseca, e representantes renomados do Espiritismo.

O Dr. Inácio Ferreira, conhecido psiquiatra Espírita, à frente do Sanatório Espírita de Uberaba narra, em seu livro psicografado “Sob As Cinzas Do Tempo”, o encontro com o espírito que se identificou como Pai Jacó, quando incorporado pela médium umbandista amiga do médico. Este era um nome intrigante para Dr. Inácio, pois o espírito disse-lhe ser alguém já conhecido por ele, mas que agora se apresentava com outro nome. Ora, o próprio Chico Xavier desfaz o preconceito em sua entrevista para o programa Pinga-Fogo, da década de 70.








A orientação dada pelos espíritos a Allan Kardec, encaminhador do Espiritismo, é a de que deve-se dar nome a cada nova existência. Daí muitos espíritas dizerem que Umbanda não é Espiritismo e se incomodarem com algumas religiões que, por outro lado, se dizem “religiões espíritas”, por acreditarem em um plano espiritual, mas que nunca se deram ao trabalho de ler o “Livro dos Espíritos”.

Os fanáticos, tão pouco tolerantes, acreditam-se muito puros ao defender Deus, mas não percebem que ao dizer que os espíritos são coisas do mal estão admitindo a existência dos próprios espíritos que temem. A Umbanda sofre ainda com seus sincretismos, incompreendidos, às vezes mal usados para camuflar a vergonha em se assumir uma crença em divindades de nomes africanos.





Umbanda ou Espiritismo?

O Dalai Lama disse recentemente que nenhuma religião pode ser universal, pois está submetida à cultura dos homens que a criaram. Se for feito um estudo unificador sério, é bem provável que o resultado seja a destruição das religiões, pois os personagens e as interpretações, estes cabem aos homens, e são incontáveis! Mas as histórias são as mesmas, repetem-se os ensinamentos, pois estes cabem a Deus.

Apesar disso, muitos ainda entram em discussões sobre o que é Umbanda, uma religião Espírita ou não? A dificuldade em se definir cada coisa em detalhes se dá por motivos mundanos como orgulho ou vaidade. Há casas de Umbanda que seguem as orientações do Espiritismo, outras não, e atualmente o pessoas do mundo inteiro se servem de ferramentas de diversas religiões para melhorar suas vidas ou buscar a Verdade.

Crenças são simplesmente ensinamentos, orientações, de seres superiores e não cabe aqui o orgulho. Consulte seus guias, vamos refletir sobre aquilo em que acreditamos realmente, aquilo que é comum a todos os seres humanos: a capacidade de fazer o mal e o bem.


Esqueça-se por um momento dos nomes e rótulos. Pergunte-se “Quem sou eu? O que eu quero fazer?” Depois de refletir sobre isso, verá que não importa o nome que se dá às coisas, mas sim para que elas servem. Encha o peito de ar puro e descubra seu caminho. Pergunte-se “O que eu posso fazer de melhor? Como posso fazer?”, Deus, então, te guiará!











UMBANDA MINHA


Caminhando eu vinha.
Trôpego o meu passo, quanto cansaço tinha
Quando te encontrei, Umbanda minha!

E se cantavam hinos e pontos e se cantavam
saravando Iansã
E as contas das guias a luz das velas brilhavam
Como orvalhos na manhã.

As velas jogavam luz nas flores, nos ramos
Havia perfume no ar, a cruz era venerada
E muito amor para se dar.

De repente de cores vestidos ficávamos de branco
E orávamos como pretensos anjos
E tão bem ficávamos assim unidos
Que até esquecíamos como estávamos vestidos.

Assim tão simples sem atavios
Olhando as velas em seus humildes pavios.

Umbanda, vou te amar-te sempre!
Mesmo que longe de ti me veja
Ou pela minha pequenez, muito
Longe de mim estejas.
Amarei teus Pretos-Velhos,
Arcados, encarquilhados,
cheios de sábios conselhos
Sempre os senti como espelhos!

Teus caboclos, cheios de força e de amor
Com um ramo verde ou uma flor
Emprestando a nós, pobre mortais
Grandes esperanças, nobres ideais!

Umbanda minha, aqui estou para servir-te
Pelo simples desejo de contigo estar
Agradecer o que de ti ganhei
Obedecer a tua santa lei
Aprender como se deve dar.

Tanto me ensinaste Umbanda
A grande força que há na natureza
A poderosa mão de Oxalá
O rio na sua correnteza
A pureza das águas do mar.

Xangô na sua justiça
Assentado na pedreira
Que passe uma vida inteira
Hei de sempre saravá

Da resina do pinheiro
Ao forte odor do cedro
No altar improvisado
O eco de um ponto cantado

Saudando o povo da mata
Falando da flecha e do arco
Do capacete de penas
E da cabocla jurema.

Reunidos nas brancas areias
Em volta do velho mar
Cantando as nossas sereias
E a nossa mãe Iemanjá.

Ah! Umbanda minha
Amparo dos desvalidos
Aquela que enxuga os prantos
E aos vencidos força dá.

Corrige-nos enquanto é tempo
Enquanto a hora se faz
Faz nosso teu juramento
De muito amor e paz.

Ogum com sua espada
Venha sempre nos defender
Na noite escura calada
Na dor de nosso viver.

Meu Pai Oxalá, abençoa nossos terreiros
E nos conserva de pé
Mostrando sempre nosso bom Pai
A verdade, a justiça, o amor
Guia seus filhos de fé.

Faz  nosso Templo humilde como senzala
Que nele haja a fé que não se abala
A fortaleza do povo da mata
A firmeza que há em Ogum
A limpeza das águas do mar.

Faz brilhar nossa estrela
Poderoso Pai Oxalá
Que possamos por ti sermos guiados
Para podermos guiar.

Conserva nossas esperanças
Em nossos protetores do espaço
Firma as nossas andanças
Situando os nossos passos.

Pai Supremo, nosso Deus
Livra-nos de todo o mal
Permita, se merecermos
Sermos por ti ajudados
Ampara nosso Congá

Que nele possa, meu Pai
A estrela da fé brilhar
O nosso coração que ele ilumine
 E brilhe em nosso olhar.

Possamos agradecer sempre
Aquilo que nos ensinaste
E cuidarmos com terno zelo
A semente que em nós plantaste.

As sete linhas saravando
As sete forças do universo
Que eu possa sempre cantar-te
Umbanda Minha, em meu verso.

               (Psic./Ieda Passos Bandeira/1984)















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