quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

FIM DE ANO

  







    Amado Pai Oxalá,

Senhor dos Orixás, força suprema.

Mestre fiel, que nos ama e nos dá bençãos,

Novamente findando mais um ano, venho te agradecer por tantas
maravilhas recebidas de ti.

    Agradeço extremamente pelo Sol ao raiar da manhã,
Pelos jardins que embelezaram nossos caminhos,
pelo novo dia que tu nos presenteia,
pelas chuvas que nos cederam a água para matar nossa sede,
pelo vento que nos refrescaram o corpo por muitas vezes tão cansado,
pelo imenso e poderoso mar que tanto nos encanta,
pelo pão que mata a fome de nossos semelhantes,

    Agradeço também querido Pai,
pelos obstáculos que me ensinaram a ser forte,
pela dor que me ensinou a não desistir e ser perseverante,
pelas lágrimas que pude secar de meus irmãos angustiados,
por tudo que pedi e o senhor me cedeu, e por algumas coisas que não o
fez, pois não era de meu merecimento,
agradeço pelos amigos que me acompanharam por todo ano, e agradeço
pelos possíveis inimigos que tu tiraste de meu caminho,
agradeço a sabedoria de poder responder com convicção algumas questões
nas buscas de ajudas de amigos desesperados, ou daqueles que
simplesmente achavam que seus problemas eram enormes, sem ao menos
terem olhado ao lado, e verem que os de seus semelhantes eram
extremamente maiores.
Também agradeço as palavras que me conduziste a falar, mesmo duras, a
aqueles que não deram valor as bençãos e lições que o Senhor os
concedeu.

    A ti Pai Oxalá, todos os Orixás e todas as Entidades de Luz,
entrego tudo que realizei esse ano.

    Tudo que passou por minhas mãos,
as coisas que pude criar,
o trabalho espiritual realizado,
as palavras de caridade,
a ajuda cedida.

    Querido Pai Oxalá,
nesse momento lhe entrego todos os amigos
que comigo percorreram tantos caminhos em favor ao bem e ao amor.

    Lhe entrego também as pessoas que foram centenas,
os que de alguma forma se aproximaram de mim me trazendo carinho,
amor e paz.

   Entrego em teu abraço paternal esses irmãos que estão bem pertinho
de mim, e também os que estão tão distantes, mas mesmo assim rompem
fronteiras para nos agraciar com seu carinho.

    Também peço sua proteção Querido Pai Oxalá,
para aqueles que me estenderam as mãos na hora do desespero,
e também para aqueles que pediram minhas mãos num momento de
angústia.

    Agradeço por cada resposta cedida quando me encontrava em dúvida,
e agradeço a luz dada a cada instante que eu não encontrava uma saída
para meu semelhante.

    Também gostaria, além de lhe agradecer Senhor, lhe pedir perdão.

    Perdão pelas palavras mal ditas,
pelo tempo desperdiçado com coisas desnecessárias,
pelo dinheiro mal empregado em coisas fúteis,
pela falta de entendimento com fatos que achei irrelevante,
pela falta de paciência com algumas pessoas,

    Perdão pela oração não feita na hora devida,
ou pela oração não passada a quem necessitava.

    Perdão pelo momento que deixei um irmão sem uma palavra esperada.

    Perdão por não ter agradecido o suficiente, e ter pedido mais do
que eu necessitava.

    Perdão por achar que as vezes meus problemas eram maiores dos que
os de meus irmãos de fé.

    Perdão pelas reclamações de um dia chuvoso, ou pelo mal humor de
um dia de muito calor.

    Perdão por não ter posto em prática a oração diária pelos meus
semelhantes que buscavam um afago espiritual.

    Perdão por não me lembrar que temos milhares de crianças morrendo
de fome por todo o mundo, enquanto fazemos nossas refeições sem culpa.

    Querido Pai de todos nós,
a ti entrego esse novo ano.
Ano esse que não sabemos o que vem pela frente,
que não sabemos como passaremos,
que não sabemos se sorrisos daremos,
quantas lágrimas secaremos,
quantas orações teremos,
quantos pedidos faremos,
quantos obstáculos passaremos,
e quantas vezes mais nos ajoelharemos
para de novo pedir implorar sem lhe agradecer.

    Portanto querido Pai Oxalá,
hoje lhe peço já agradecendo,
para mim, meus amigos e a todos de bom coração,
Paz, amor e compreensão,
a felicidade com largos sorrisos,
a fortaleza para sobreviver,
a sabedoria e o entendimento,
o otimismo e a bondade,
a luz e a caridade.

    Peço que feche meus ouvidos para toda falsidade,
e minha boca a palavras maledicentes.

    Peço que eu seja luz a quem está na escuridão,
estradas abertas a quem busca um caminho,
paz a quem está em desespero,
esperança a quem perdeu a fé.

    Me faça assim Senhor, por todo esse ano que se inicia,
para que eu possa levar seu nome,
podendo assim criar uma corrente de paz, fraternidade, caridade, fé e
amor.

    Querido Oxalá,
a meus irmãos de fé que leem essa mensagem,
se inebriem de amor paz e sabedoria,
para que assim essas sementes comecem a crescer
por todo novo ano,
por toda a vida.

Feliz ano novo a todos os irmãos Umbandistas ou não.

Que Pai  Oxalá, todos os Orixás e todas as Entidades de Luz abençoe a
todos, não só nesse novo ano, mas também por toda a nossa vida terrena
e espiritual.

Que assim seja !



São os votos da Associação Espiritualista Luzes de Aruanda , a todos os irmãos de fé.



















terça-feira, 29 de dezembro de 2015

PAI GUINÉ - É O VENTO QUE BALANÇA A FOLHA



As coisas estavam um pouco diferentes naquela noite. Não esquisitas, nem estranhas, só diferente. O terreiro estava limpo e cheio de energias boas e confortantes, com as seguranças feitas e os médiuns dispostos.

Os consulentes aos poucos iam chegando e trazendo suas dores e lamentos para os pais, cada qual com a esperança de melhoras.

A sessão começou com todos cantando e elevando seus espíritos a Deus, unidos e amparados pela Luz Divina que vem de Aruanda, do Reino de Oxalá. O Guia do dirigente espiritual do terreiro incorporava em seu médium para mais uma sessão de amor e caridade aos irmãos necessitados, ao som de seu ponto cantado:

"É o vento que balança as folhas guiné,
É o vento que balança as folhas,
É, é, é Pai Guiné, é o vento quem balança as folhas."

Um a um, os consulentes foram sendo guiados para os caminhos do amor através da conversa sincera e dos passes magnéticos dos Guias do terreiro. Tudo estava correndo normalmente, ou parecia estar, até que uma consulente incorpora um kiumba que esperneava e xingava a todos os presentes.

Pai Guiné levantou de seu toco deixando seu consulente esperando e foi até o kiumba. Apenas olhou com resignação e compaixão daquele espírito perdido nas trevas da ignorância, do preconceito e sobretudo do ódio.

O kiumba, ao pressentir a chegada do Preto pára de espernear e com ódio olha para Pai Guiné e fala:

- É bem capaz que esse negro vai me fazer parar!

Pai Guiné responde:

- Parar, esse nego velho não vai, porque nenhum espírito merece ficar parado nas escalas evolutivas que regem o Universo e se o irmão acha que ficaremos aqui contracenando num teatro está muito enganado.

O kiumba, assustado e sem saber o que fazer segue esperneando e xingando a todos. O Preto-Velho bate sua bengala no chão, o kiumba pára e, vagarosamente, a cada nova batida da bengala do Preto-Velho ele se desliga dos chacras da consulente, que é energizada e convidada para uma franca conversa com Pai Guiné.

- Obrigada Pai, não sei quem mandou aquele encosto, aposto que foi alguém do meu serviço!

A consulente foi interrompida em seus delírios de obsessão e o Preto Velho lhe responde com sabedoria:

- Minha filha, hoje você veio nesse terreiro querendo destruir a todos que lhe rodeiam, irmãos que você supunha serem seus inimigos. Ninguém mandou o encosto para você, minha filha, apenas era um espírito com afinidade de seus sentimentos de ódio e rancor.

As palavras do Preto-Velho fizeram a consulente refletir. E, após um silêncio de reflexão, Pai Guiné continua sua conversa:

- A filha acha que, por ter um bom emprego e um bom cargo, seus colegas lhe invejam e seu chefe lhe persegue, mas não vê que seu emprego apenas reflete aquilo que a filha fez ou deixou de fazer por aqueles colegas que mais precisavam da sua ajuda, virando-lhes o rosto e sendo ríspida com quem hoje poderia ser seu amigo ou sua amiga. A filha veio nesse terreiro procurando o mal e, influenciada pelo kiumba, é o que levaria para casa, mas esse Negro Velho, inspirado por seu Anjo da Guarda veio ao seu auxílio. Espero que a filha volte ao seu lar, agora com a aura limpa e com um pouquinho mais de sabedoria, que plante sementes de compaixão, humildade e caridade, que, tenho certeza, irá colher paz, amor e muitas felicidades.

Ao cessarem as palavras de Pai Guiné a consulente, com lágrimas nos olhos agradeceu com sinceridade ao humilde e sábio Pai Guiné de Aruanda e saiu do terreiro levando amor, um corpo espiritual limpo e a certeza de ter encontrado a luz.

A cada vento que bate em seu rosto lhe trazendo paz, ela se lembra de que, nos momentos mais difíceis Pai Guiné lhe carrega nos braços, e lhe lembra que ele é o vento quem balança as folhas.

















Fonte: Jornal Nacional de Umbanda Edição 38.

domingo, 27 de dezembro de 2015

UMBRAL : O QUE É ?

                            


Em 1943, André Luiz, o médico que se tornou conhecido psicografando livros pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, trouxe a público o significado dado à palavra na colônia espiritual “Nosso Lar”, onde passou a viver alguns anos depois de seu desencarne.

Em seu livro também chamado “Nosso Lar”, ele conta como ouviu falar do Umbral pela primeira vez, quando o enfermeiro Lísias lhe dava as primeiras informações sobre a colônia e descreveu-o como região onde existe grande perturbação e sofrimento e para a qual a colônia dedicava atenção especial.
Desde então, a palavra Umbral, escrita com inicial maiúscula, como o fez André Luiz no livro “Nosso Lar”, tomou significado especial, principalmente entre os espíritas, designando a região espiritual imediata ao plano dos encarnados, para onde iriam e onde estariam todos os espíritos endividados, perturbados e desequilibrados depois da vida.

Com esta conotação a palavra difundiu-se muito e transformou-se num quase sinônimo do Inferno e do Purgatório dos católicos, com localização geográfica, tamanho, etc., conceito este que o próprio Allan Kardec, codificador do Espiritismo, já havia desmistificado em suas obras, mais de 80 anos antes, especialmente em “O Livro dos Espíritos”.

Como vemos pelas respostas dos espíritos a Kardec, o inferno e o paraíso não passam de estados de espírito, condição moral de sofrimento ou felicidade a que estão sujeitos os espíritos por suas próprias atitudes, pensamentos e sentimentos durante a vida encarnada e depois dela. E é bom lembrar que espíritos somos todos, encarnados e desencarnados, vivendo cada um o seu inferno e o seu paraíso particulares. O que nos diferencia dos espíritos desencarnados é apenas o fato de estarmos temporariamente presos a um corpo denso de carne.

De resto, somos absolutamente iguais a eles, com desejos, opiniões, frustrações, alegrias, defeitos e qualidades. Na verdade, a figura geográfica e espacial do inferno dos católicos serviu de molde aos espíritas para que melhor visualizassem o que seria o Umbral, assim como o inferno da Igreja Católica foi tomado emprestado e adaptado do inferno dos povos pagãos para compor os mitos de inferno e paraíso. Se não existe inferno ou purgatório porque haveria de existir o Umbral com localização, medidas, coordenadas, etc.?

Tudo o que existe no plano espiritual é criado pela mente dos espíritos encarnados e desencarnados. Sempre que pensamos nossa mente dispara um processo pelo qual somos capazes de moldar as energias mais sutis do universo, criando formas que correspondem exatamente àquilo que somos intimamente.

Extremamente apegados ao mundo material, nada mais natural que, mesmo estando fora dele, queiramos tê-lo novamente quando desencarnados. É aí que nossa mente entra em ação, criando tudo o que desejamos ardentemente.
E várias mentes desejando a mesma coisa juntas têm muito mais força para criar.

A grande diferença é que, no mundo físico, podemos embelezar artificialmente o nosso ambiente e a nossa aparência, enquanto que no plano astral isso não é possível, pois lá todos os nossos defeitos, mazelas, falhas, paixões, manias e vícios ficam expostos em nossa aura, exibindo claramente quem somos como consciências e não como personalidades encarnadas.

No Umbral, tudo o que está fora de nós é consequência do que está dentro. Tudo o que existe em nosso mundo pessoal e nos acontece é reflexo do que trazemos na consciência.

Assim, o Umbral nada mais é que uma faixa de frequência vibratória a que se ligam os espíritos desequilibrados, cujos interesses, desejos, pensamentos e sentimentos se afinizam.

É uma “região” energética onde os afins se encontram e vivem, onde podem dar vazão aos seus instintos, onde convivem com o que lhes é característico, para que um dia, cansados de tanto insistirem contra o fluxo de amor e luz do universo, entreguem-se aos espíritos em missão de resgate, que estão sempre por lá em trabalhos de assistência.

Alguns autores descrevem o Umbral como uma sequência de anéis que envolvem e interpenetram o planeta Terra, indo desde o seu núcleo de magma até várias camadas para fora de seus limites físicos.

O que acontece é que os espíritos se reúnem obedecendo, apenas e unicamente, à sintonia entre si e acabam formando anéis energéticos em torno do planeta, ou melhor, em torno da humanidade terrena, pois ela é parte da humanidade espiritual que o habita e é também o foco de atenção de todos os desencarnados ligados a ele.

As camadas descritas em alguns livros são mais um recurso didático para facilitar o entendimento e o estudo do mundo espiritual, pois não há limites precisos entre elas, assim como não há divisas exatas entre um bairro e outro de uma mesma cidade, ainda que eles sejam de classes sociais bem diferentes.

Esse mesmo mecanismo de sintonia é o que cria regiões “especializadas” no Umbral, como o Vale dos Suicidas, descrito por Camilo Castelo Branco, pela psicografia de Yvonne A. Pereira, em seu livro "Memórias de um Suicida".

Espíritos com experiências de suicídio, vivendo os mesmos dramas, sofrimentos, dificuldades, agrupam-se por pura afinidade e formam regiões vibratórias específicas. Assim também acontece com faixas energéticas ligadas às drogas, ao aborto, aos distúrbios psíquicos, às guerras, aos desequilíbrios sexuais, etc.

Apesar de toda perturbação e desequilíbrio dos espíritos que vivem no Umbral, não devemos nos iludir. Existe muita disciplina, organização e hierarquia nos ambientes umbralinos.

É o que nos mostra, por exemplo, o espírito Ângelo Inácio, pela psicografia de Robson Pinheiro, em seu livro "Tambores de Angola", e o espírito Nora, pela psicografia de Emanuel Cristiano, em seu livro "Aconteceu na Casa Espírita".

Vemos ali o quanto esses espíritos podem ser inteligentes, organizados, determinados e disciplinados em suas práticas negativas, criando instituições, métodos, exércitos e até cidades inteiras para servir aos seus propósitos.

É preciso que compreendamos que todos nós já estamos vivendo numa dessas “camadas” de Umbral que envolvem a Terra e que todos nós criamos o nosso próprio Umbral particular sempre que contrariamos as leis divinas universais, as quais podem ser resumidas numa única expressão: amor incondicional.

Mas o Umbral não é um mundo só de desencarnados. Muitos projetores conscientes (encarnados que fazem projeções astrais conscientes) narram passagens por regiões escuras e densas, semelhantes às descrições de André Luiz em "Nosso Lar".

Todos os encarnados desprendem-se do corpo físico durante o sono e circulam pelo mundo espiritual.

Esse é um fenômeno absolutamente natural e inerente a todo espírito encarnado.

Uma grande parte continua a dormir em espírito, logo acima de onde está descansando o corpo físico.

Outros limitam-se a passear inconscientes pelo próprio quarto ou casa, repetindo, mecanicamente, o que fazem todos os dias durante a vigília.

E há os que saem de casa e vão além.

Dentre estes, uma pequena parte procura manter uma conduta ética elevada, 24h por dia, tentando sempre melhorar-se como pessoa, buscando sempre ajudar e crescer e, muitas vezes, é levada ao Umbral em missão de resgate ou assistência, trabalhando com espíritos mais preparados, doando suas energias pelo bem de outros espíritos.

Mas há um grande número dos que conseguem sair de seu próprio lar durante o sono e vão para o Umbral por afinidade, em busca daquilo que tinham em mente no momento em que adormeceram ou obedecendo a instintos e desejos inferiores que, embora muitas vezes não estejam explícitos na vigília, estão bem vivos em sua mente e surgem com toda força quando projetados.

Essas pessoas, muitas vezes, acabam sendo vítimas de espíritos profundamente perturbados ligados ao Umbral que as vampirizam e manipulam, em alguns casos chegando até a interferir em sua vida física, criando problemas familiares, doenças, perturbações psicológicas, dificuldades profissionais e financeiras, etc.

Vemos, assim, que o Umbral, de que falam André Luiz e tantos outros autores encarnados e desencarnados, está mais próximo de nós, encarnados, do que muitos de nós imaginam.

E, o que é mais importante, somos nós mesmos que ajudamos a manter esse mundo denso com nossos pensamentos e sentimentos menos elevados.

Somos nós que damos aos espíritos perturbados, que se encontram ligados a essa faixa vibratória, grande parte da matéria-prima de que se valem para sustentar seu mundo de trevas e sofrimento.

O Umbral está em todo lugar e em lugar nenhum, pois está dentro de quem o cria para si mesmo e acompanha o seu criador para onde quer que ele vá.

Toda vez que nos deixamos levar por impulsos de raiva, agressividade, ganância, inveja, ciúmes, egoísmo, orgulho, arrogância, preguiça, estamos acessando uma faixa mais densa desse Umbral.

Toda vez que julgamos, criticamos ou condenamos os outros, estamos nos revestindo energeticamente de emanações típicas do Umbral.

Toda vez que desejamos o mal de alguém, que nos deprimimos, que nos revoltamos ou entristecemos, criamos um portal automático de comunicação com o Umbral.

Toda vez que nos entregamos aos vícios, à exploração dos outros, aos desejos de vingança, aos preconceitos, criamos ligações com mentes que vibram na mesma faixa doentia e estão sintonizadas com o Umbral.

O Umbral só existe porque nós mesmos o criamos, e só continuará existindo enquanto nós mesmos insistirmos em mantê-lo com nossos desequilíbrios.

O Umbral é nosso também, faz parte do nosso mundo e não podemos renegá-lo ou simplesmente ignorá-lo. Assim como não podemos também fingir que não temos nada a ver com ele. Lá estão também algumas de nossas próprias criações mentais, de nossos sentimentos inferiores, de nossos pensamentos mais densos. E lá vivem espíritos divinos como nós, temporariamente desviados do caminho de luz em que foram colocados por Deus.

Por isso é importante que não vejamos o Umbral como um lugar a ser evitado ou uma ideia a não ser comentada, mas como desequilíbrio espiritual temporário de espíritos como nós que, muitas vezes, só precisam de um pouco de atenção e orientação para se recuperarem e voltarem ao curso sadio de suas vidas.

É comum encontrarmos médiuns e doutrinadores que têm medo ou aversão ao trabalho com espíritos do Umbral, evitando atendê-los, ignorando-os friamente ou tratando-os como criminosos sem salvação que não merecem qualquer compaixão ou respeito.

Estas pessoas esquecem-se de um dos preceitos básicos da espiritualidade: a caridade.

Os habitantes do Umbral não são nossos inimigos, mas espíritos que precisam de compreensão e ajuda.

Não são irrecuperáveis, mas perderam o rumo do crescimento espiritual.

Não estão abandonados por Deus, mas não sabem disso e desistem de procurar orientação.

Não são diferentes de nós, mas tão semelhantes que vivem lado a lado conosco, todos os dias, observando nossos atos, analisando nossos pensamentos, vigiando nossos sentimentos, prestando atenção às nossas atitudes.

E, se não queremos ir ao Umbral por afinidade, que nos ocupemos em nos tornar seres humanos melhores, mais dignos, mais éticos, 24h por dia.

Desse modo, nossa passagem pelo Umbral será sempre na condição de quem leva ajuda sem medo, sem preconceito e sem sofrimento, e não de quem precisa de ajuda para superar seus próprios medos, preconceitos e dores.

























Por: Maísa Intelizano.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

É NATAL FILHARADA





Ee, tá chegando o final de mais um ano cristão, os filhos estão todos alvoroçados, preparativos pra isso, pra aquilo e aquele outro, e eu aqui só olhando, eta filharada parecem que viram crianças, até os mais sisudos em seus pensamentos, em seus inconscientes esperam que algo diferente aconteça.

Ee, o aniversário é de Jesus, que presenteia o ano inteiro a todos, mas eles os filhos não querem dar presente a Ele, querem mesmo é que Ele dê um jeitinho para que seus sonhos se realizem.

Muitos têm sonhos materiais que nem vale a pena comentar, mas alguns, um punhado deles, têm sonhos bem simples, mas são estes sonhos simples os mais difíceis de acontecer, é o abraço de um irmão, o reconhecimento de outro, a alegria de um filho, os olhos brilhando do ou da companheiro ou companheira ao abrirem um mimo humilde mas repleto de amor.

Ás vezes, dói o coração deste velho ao ver uma das criancinhas que assisto desejar apenas um carinho do pai ou mãe, uma atenção, ou quem sabe ter a sorte de poder comprar aquele bolo gostoso que só no Natal vende, ah filharada como meu coração dói, lembro da senzala, lembro de como ansiava por um carinho, por alguém que me chamasse de filho, que me fizesse um cafuné e quem sabe conseguisse pra mim um torrão de açúcar ou um biscoito.

Nossa como é triste não ter nada disso e ser criança, então eu me prostro ao chão e imploro a Jesus que permita que eu trabalhe muito mas muito mesmo para comover os corações dos filhos adultos para que estas crianças tenham uma pequena alegria.

Ee, o melhor de tudo é que Jesus sempre permite, sempre a mim ajunta-se espíritos que trabalham em diferentes linhas, a linha branca, a umbanda, o candomblé, a magia , e tantos outros desconhecidos por vocês, até os anjos se fazem presente, socorrendo não só as crianças mas todo aquele que tenha o coração simples como o das crianças, para que não se desapontem, para que sintam a presença de Jesus, para que saibam que ELE tudo pode, é só ter fé verdadeira.

Bem filharada, vão se preparando aí para a festa de Jesus, que nós aqui já começamos a agir nos corações endurecidos para que o sonho dos simples de coração e dos pequeninos se realize,





Um lindo feliz Natal para todos, lembrando que o melhor presente é sempre o AMOR , é o que nós da AELA desejamos a todos os irmãos de fé.











sábado, 19 de dezembro de 2015

MEU CABOCLO , MEU QUERIDO






Eram 18hrs e Jorge já dava os últimos retoques em seu terno para assistir a mais uma reunião na igreja neopentecostal que frequentava há um ano.

Homem trabalhador, desde jovem já exercia a função de carpinteiro. Hoje, aos 60 anos, com esposa e um neto, tinha vida humilde e tranquila, apesar dos problemas de saúde que o afligiam. Carregava uma grande mágoa dentro do seu coração. Tendo sido médium umbandista atenuante por mais de 20 anos, deparou-se com uma enfermidade que atingia violentamente sua única e amada filha. Rogou a Deus, a seu Guia Espiritual e às demais entidades espirituais do terreiro em que trabalhava que a curassem.

Não logrou sucesso, perdendo a presença física de sua filha Denise em 6 meses. Revoltado com a tragédia, abandonou a Umbanda e afirmou que jamais voltaria para a religião, pois se ali estivessem espíritos do bem e de Deus, não teriam deixado que tão grande desgraça lhe atingisse. Sob grande instabilidade psíquica e induzidos por "fanáticos evangélicos", lá estava ele, ao lado de sua esposa, nos cultos da igreja, cujo "ministro religioso" exortava a todos os presentes a exconjurarem os espíritos malignos da macumba, além de prometer a salvação . 

Em suas horas de descanso, na paz do convívio familiar, Jorge quase sempre ouvia uma voz estranha que lhe dizia: "Sempre estarei com você". Comentava o fato com a esposa que influenciada pelo fanatismo religioso dava como resposta que deveria ser um espírito maligno que o acompanhava, aconselhando-o a comentar o assunto com o "pastor". Resolveu seguir os conselhos de sua mulher, procurando, durante um culto, esclarecimento com o "missionário".

Este informou-lhe que as ocorrências eram obra do diabo, solicitando a Jorge que aumentasse suas ofertas, para que Deus pudesse operar em obra e graça na sua vida (de Jorge).  Contudo a voz insistentemente lhe invadia, dizendo: "Sempre estarei com você". Numa tarde de domingo, após o almoço, Jorge preparava-se para descansar em seu leito, quando bruscamente foi vitimado por uma forte dor no peito, próxima ao coração. Caiu desmaiado, sendo acudido por sua esposa, que aos berros rogava ajuda aos vizinhos.

Colocado em um táxi, rumou as pressas para o hospital mais próximo, a fim de ser atendido. Após o pronto atendimento e posteriores exames clínicos, foi diagnosticado uma insuficiência cardíaca, provocada por grande lesão nas artérias do coração. O caso solicitava o concurso premente e intervenção cirúrgica, sem a qual Jorge certamente sucumbiria. A operação foi marcada.

Sua esposa, apavorada com o cenário, encaminhou-se para a igreja, a fim de solicitar os préstimos religiosos do "missionário". Foi atendida e aconselhada a aumentar as suas contribuições pecuniárias (dinheiro) e a fazer desafio a Deus pela cura de Jorge. Desolada, com o pouco caso dado a sua situação, voltou ao hospital, sendo ali informada que seu marido piorara, e que por isto, tinham antecipado a cirurgia.

Encostou-se numa cadeira da recepção e entre lágrimas e soluços começou a rogar a Deus pela saúde do amado esposo. Ouviu então uma voz que lhe tocou como verdadeiro bálsamo consolador, que lhe dizia "Eu sempre estarei com ele". Na sala de cirurgia, Jorge ainda acordado, pedia a Deus que o deixasse viver pois tinha esposa e neto para sustentar. Observando a movimentação dos médicos que preparavam a anestesia local, Jorge notou intenso feixe de luz que surgia no canto direito daquele recinto. De cores variadas e predominância de violeta, a luminescência pouco a pouco foi se condensando na figura altiva de um índio, que empunhando uma moringa nas mãos, se aproximou do leito. Jorge chamava pelos médicos que não lhe davam atenção. Se perguntava mentalmente quem era aquele indígena. Do interior da moringa a Entidade Espiritual retirou um líquido verde e extremamente cintilante, derramando-o sobre o peito de Jorge, além, de fazê-lo ingerir um pouco da substância. Ato contínuo, o espírito desapareceu e Jorge adormeceu.

Duas horas depois despertou na enfermaria, notando a presença do médico e de sua esposa. Perguntou sobre a operação e, para seu espanto o médico que ali estava disse-lhe que a cirurgia fora cancelada, uma vez que, momentos antes da aplicação da anestesia geral, o cirurgião chefe "resolveu" realizar novos exames, os quais não acusaram qualquer lesão nas artérias coronárias. Também relatou a Jorge que durante os preparativos para a operação, a equipe cirúrgica sentiu uma forte fragrância de ervas, cuja origem não foi detectada. Passados dois meses do susto, Jorge sentado sob a copa de uma mangueira em seu quintal, observava o lindo luar que despontava no céu estrelado. Indagava-se sobre os acontecimentos passados, procurando uma resposta sensata para o que ocorrera; a cena da sala de cirurgia não lhe saia da mente.

A brisa corria suave, e com ela uma voz chegou aos seus ouvidos: "Sempre estarei com você". Virou-se em direção aos arbustos e, estático, visualizou a presença do mesmo índio presente ao hospital. O espírito aproximou-se, informou a Jorge ser seu Guia Espiritual, Caboclo denominado aqui de "Y", e que tinha recebido ordens superiores para curá-lo da enfermidade. Trazia também informações sobre sua querida filha, que estava bem envolvida em trabalhos assistenciais dentro da Umbanda, salientando a Jorge que a doença de sua filha era processo depurador irreversível, motivo pelo qual não havia como interferir. Jorge profundamente emocionado, não conseguia expressar-se. O Caboclo Y disse-lhe que respeitava sua mudança de religião, mas onde estivesse, ele, o Caboclo, sempre estaria ao seu lado, em labor de amparo e aconselhamento. O carpinteiro Jorge, sensibilizado pelas palavras do amigo espiritual, pediu desculpas pela falta de fé nos trabalhadores espirituais de Umbanda. O caboclo sorriu, ao mesmo tempo em que começava a perder sua forma ideoplástica por entre a vegetação. Jorge observando a grande beleza cenográfica espiritual, relembrava os tempos de terreiro; as pessoas sendo auxiliadas; sua filha querida cambonando o Caboclo Y, a caridade pura e simples se manifestando , sem ofertas ou barganhas com Deus. Jorge voltou ao seu antigo terreiro, sendo calorosamente recepcionado pelos amigos espirituais carnais que o aguardavam. Após as sessões de caridade, como instrumento de expressão dos amigos espirituais, Jorge feliz por mais um dia de amparo aos necessitados e relembrando a fisionomia do seu Guia Chefe, no silêncio de suas preces, sempre exclamava: "Meu Caboclo, Meu Querido!"




















Texto retirado da RBU - Rede Brasileira de Umbanda

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NADA É OBRIGAÇÃO É OPÇÃO DO LIVRE ARBÍTRIO




Um dia lá na Aruanda, encontro um filho de fé ainda encarnado na terra. Este filho sempre que tem permissão durante o seu sono na matéria vai à busca de amigos no mundo espiritual.

Normalmente, destes encontros ao despertar só tem vaga lembrança, ficando em seu inconsciente o aprendizado que obteve ou a ajuda que proporcionou e até a conversa que teve com um amigo. Dificilmente, é lhe permitido lembrar-se de tudo, apenas sente a essência da energia de bem estar que ali obteve. No entanto, se for caso de um aviso, permitimos que ou ele se lembre na hora que acorda ou que na hora apropriada venha em sua mente o alerta que lhe foi passado.  E assim o é com todo irmão encarnado, sendo ou não espírita, tendo ou não a mediunidade desenvolvida.

Agora voltando ao  filho, estava eu nas paragens de Aruanda quando me deparo com o mesmo observando o nosso lindo jardim. Sabia que seu mentor ali o traria aquela noite, precisávamos orientá-lo sobre a forma que estava sentindo o seu trabalho no centro que frequentava.

Ele que há anos doava sua matéria para a caridade espiritual não só com amor mas também com uma boa vontade incrível, nos últimos tempos só devido ao seu grande amor ao próximo fazia que ele comparecesse ao trabalho, estávamos preocupados, pois a sua energia era de puro abatimento.

Quando me viu, veio ansiosamente ao meu encontro, logo me perguntando:
-É o meu pai João?
-Não, meu filho, sou eu o Pai Tomé, mas sei que precisas conversar um bocadinho, depois vamos abraçar o velho João que só não está aqui por ter sido chamado em caráter de emergência a um socorro na crosta.
-Pai o que queria conversar, ou melhor, perguntar é: depois de tantos e tantos anos atendendo nos terreiros, filhos diferentes é verdade, mas todos no fundo com os mesmos problemas, não está cansado? Quando terá um tempo para si?

-Menino, veja bem, o tempo de cada um é dele exclusivamente, o Pai permite que façamos do nosso tempo o que bem entendermos. Se quisermos ficar horas a fio sentado em algum lugar agradável meditando, é isso o que faremos. Mas normalmente cada um de nós quando estamos a fazer nosso tempo de pausa, ao ouvirmos um chamado, por nossa opção, corremos atender e não é por obrigação não, é por amor. Caso não escutemos a voz do nosso coração, com certeza, iremos nos sentir muito mal, passamos a nos culpar, pois deixamos de fazer uma das coisas que mais amamos atender o nosso próximo. É esta a verdadeira razão de toda nossa existência, encarnado ou não.
Não é só quem trabalha mediunicamente que isto acontece, quando uma mãe levanta no meio da noite para embalar o filhinho que chora, ela o faz por amor e não por obrigação. Quando você em seu trabalho da terra cansado resolve fazer algumas horas extras, você o faz por amor, amor àqueles que dependem de você, ou então, amor a alguma coisa que você quer adquirir. E assim é pela vida afora.
Quando eu incorporo num centro umbandista e sentando-me no meu banquinho, inicio o atendimento eu o faço não só em amor ao meu próximo, mas sim principalmente em amor a Jesus, que nos coloca como seus auxiliares para plantar a boa semente nos corações endurecidos.
Vê filho, tudo é gerado pelo amor que sentimos, quem ama a humanidade, ama a Cristo, não se sente bem em ter um remédio em sua mão e não fazer uso naqueles que estão doentes.

-Tempo para mim? Menino tudo o que faço é meu tempo que decidi usá-lo como minha consciência manda, pois só desta forma estou feliz porque estou em paz. Nada é obrigação, de forma nenhuma, tudo é meu livre arbítrio, apenas decidi utilizar o meu tempo de forma a aprender e a ajudar os filhos encarnados de forma que ao mesmo tempo que os ajudo também apago algumas injustiças cometidas em passado distante quando eu pensava que o meu tempo era apenas para “ aproveitar a vida”.
Mais alguma coisa meu filho?

Ele, enxugando algumas lágrimas que teimavam em brotar de seus olhos, disse-me:

- E agora Pai Tomé, atendeu o chamado de Pai João, que tendo que atender um socorro urgente, pediu ao senhor que tivesse paciência com este filho aqui, que já sabia de tudo isto, mas precisava ouvir.

-Sim, meu filho, não se esqueça até nas horas de lazer não estamos sem fazer nada, sempre há um propósito e devemos aproveitar todas as oportunidades, aprende-se muito e ensina-se muito brincando de forma sadia.
Bem, lá vem Pai João, pelo jeito conseguiu terminar o socorro, vai meu filho, ele te leva de volta ao seu corpo e esteja certo desta vez você lembrará de forma bem especial.

Assim a mesma mensagem que passei a este filho, passo a todos vocês que se sentem cansados de suas “obrigações” terrenas, tem certeza que é uma obrigação? Às vezes o cansaço vem, por que talvez esteja na hora de evoluir seus trabalhos, torna-los menos materiais e trabalhar com energias, afinal tudo evolui, será que você não faz parte do processo desta evolução?
Plantei a semente do desejo do saber, e isto Pai João fez àquele filho quando o retornou para o seu corpo carnal.

Fique na paz de Oxalá,
Que Nosso Senhor Jesus Cristo abençoe a todos.


















Ditado por Pai Tomé de Aruanda
psicografado por Luconi

em 29-07-2012