terça-feira, 19 de agosto de 2014

CÉU E INFERNO




Em todas as épocas o homem tem acreditado, por intuição, que a vida futura deveria ser feliz ou infeliz, em razão do bem ou do mal que se fez aqui em baixo. Crendo que a Terra é o centro do universo, os Antigos tinham colocado o Paraíso no Céu e o Inferno sob a terra. Esta ideia, que predominou durante séculos, tornou-se obsoleta quando a ciência se pôs a observar as profundezas do espaço e da Terra. Diante desses novos conhecimentos, as crenças tiveram que se modificar: o céu e o inferno foram deslocados. Onde estão? Diante desta questão, as religiões permanecem mudas.

O Espiritismo veio esclarecer esta questão nos ensinando que não existem lugares circunscritos para as almas.

Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com a aptidão de tudo adquirir e de progredir, em virtude de seu livre arbítrio. Pelo progresso, eles adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, por conseguinte, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles vêem, entendem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, nem entender, nem sentir, nem compreender.

A felicidade está na razão do progresso realizado; de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro unicamente porque não é tão avançado intelectual e moralmente, sem que tenham necessidade de estar em lugares distintos. Ainda que estejam ao lado um do outro, um pode estar nas trevas, enquanto que tudo resplandece ao redor do outro, absolutamente como um cego e um vidente de mãos dadas; um percebe a luz, que não causa nenhuma impressão sobre seu vizinho. A felicidade dos Espíritos, sendo inerente às qualidades que possuem, são por eles absorvida em toda parte onde a encontram, na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no espaço.

Uma comparação vulgar permitirá compreender ainda melhor esta situação. Se, em um concerto se encontrarem dois homens, um bom músico, de ouvido exercitado, o outro sem conhecimento de música e com sentido da audição pouco desenvolvido, o primeiro experimentará uma sensação de felicidade, enquanto que o segundo ficará insensível, porque um compreende e percebe o que não causa nenhuma impressão sobre o outro.

Assim são todos os gozos dos Espíritos, que estão na razão da sua aptidão em senti-los. O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, ainda submetidos à influência da matéria, sequer entre vêem, e que são acessíveis apenas aos Espíritos depurados.

O espírito adiantado está liberto de todas as necessidades corporais. A alimentação e o sono não têm para ele nenhuma razão de ser. Ele deixa para sempre, ao sair da Terra, as vãs inquietações, os sobressaltos e todas as quimeras que envenenam a existência aqui em baixo. Os espíritos inferiores levam com eles, para o lado de lá do túmulo, seus hábitos, suas necessidades e suas preocupações materiais. Não podendo se elevar acima da atmosfera terrestre, eles voltam para compartilhar da vida dos humanos, misturar-se em suas lutas, em seus trabalhos e em seus prazeres. Suas paixões e seus apetites, sempre despertos, superexcitados pelo contínuo contacto da humanidade, os sobrecarregam, e a impossibilidade de os satisfazer torna-se para eles uma causa de torturas.

O espírito puro leva com ele sua luz e sua felicidade; elas o seguem por toda parte; fazem parte integrante de seu ser. Da mesma forma, o espírito culpado arrasta com ele sua noite, seu castigo, seu opróbrio. Os sofrimentos das almas perversas não são menos vivos por não serem materiais. O inferno não é senão um lugar quimérico, um produto da imaginação, um espantalho, necessário talvez, para ser imposto às pessoas infantis, mas que nada tem de real.


Vale a pena anotar:

  
* O paraíso e o inferno não existem em lugares circunscritos: eles representam o estado de consciência do Espírito segundo o bem ou o mal que realizou.
  

 * Nenhuma pena é eterna. Não depende senão da vontade do Espírito melhorar sua condição.





















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