"Sou preto. Negro
como a noite sem estrelas. Sou velho. Velho como as vidas de meus irmãos. Mas,
se sou ainda negro, é porque trago em mim as marcas do tempo, as marcas do
Cristo. Essas marcas são as estrelas de minha alma, de minha vida.
Sou negro. Mas a brancura
do linho se estampa na simplicidade do meu olhar, que tenta ver apenas o lado
bonito da vida.
Sou velho, sim. Mas é na
experiência da vida que se adquire a verdadeira sabedoria, aquela que vem do
Alto.
Sou velho. Velho no falar,
velho na mensagem, velho nas tentativas de acertar.
A minha força, eu a
construí na vida, na dor, no sofrimento. Não no sofrimento como alguns
entendem, mas naquele decorrente das lutas, das dificuldades do caminho, da
força empreendida na subida.
A força da vida se estrutura
nas vivências. É a medida que construímos nossa experiência que essa força se
apodera de nós, nos envolve e nós então nos saturamos dela. É a força e a
coragem de ser você mesmo, de não se acovardar diante das lutas, de continuar
tentando.
Sou forte. Mas quando me
deixo encher de pretensões, então eu descubro que sou fraco. Quando aprendo a
sair de mim mesmo e ir em direção ao próximo, aí eu sei que me fortaleço.
Eu sou preto, sou velho,
sou humano. Mas sou humano sem corpo.
Sou como você, sou
espírito. Sou errante, aprendiz de mim
mesmo. Na estrada da vida, aprendi que até hoje e possivelmente para sempre,
serei apenas o aprendiz da vida.
Sou andarilho. Pelas
estradas da vida eu corro, eu ando. Tudo isso para aprender que, como você, eu
sou um cidadão do universo, viajor do mundo. Sou um semeador da paz.
Sou preto, sou velho, sou
espírito, sou eu, pai João de Aruanda."
ROBISON PINHEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário