O Brocardo máximo da
Umbanda Sagrada se faz presente nestas linhas introdutórias – a saber: “Umbanda
tem fundamento, é preciso trabalhar”.
O médium iniciante, bem
como o mais experiente, jamais deverá dar-se por satisfeito no seu saber,
deverá sim sempre almejar algo a mais, pois o infinito é o limite.
A formação pessoal
consiste na leitura de obras edificantes, a presença em cursos de
aperfeiçoamento, seja religioso ou magista, e ainda, presença em palestras, a
exemplo das palestras universalistas que abordam a humanidade como um todo, atingindo a melhora moral por parte do estudante-médium.
Além destas sugestões de
desenvolvimento pessoal, não podemos divorciar o sentido da reforma íntima.
“A partir da ciência de
sua mediunidade e do compromisso de colocá-la a serviço da espiritualidade, o
médium deverá conscientizar-se da própria necessidade de melhorar
comportamentos e atitudes no dia a dia, que automaticamente refletirão de modo
positivo nos trabalhos que realizará no templo e em sua vida como um todo.
Quando alguém assume o
grau de médium, dele é exigido que purifique seu íntimo, que reformule seus
antigos conceitos a respeito da religiosidade e que se porte dignamente, de
acordo com o que dele esperam os orixás sagrados, que o ampararão daí em
diante.
A transformação interior é
o caminho correto da vida, o caminho da retidão, o caminho da fé e da vontade,
o caminho da luz. Em nossa mente e em nosso coração, não deve haver separação
entre mundo material e espiritual; não há tempo para a matéria e um tempo para
o espírito, pois o valor da vida está na eternidade. A qualidade de tudo é
universo de Deus.
A prática religiosa dever
ser um ato sagrado o tempo todo, levando a simplicidade da vida para dentro do nosso
coração e tornando sagrado o nosso mundo, as nossas ações, os nossos momentos.
Não é preciso ‘arranjarmos tempo’ para praticar a religião, o necessário é
transformarmo-nos interiormente, buscando nossa verdadeira essência, nossa
verdadeira natureza e identidade, a cada momento, expressando isso na criação
de um mundo melhor. É preciso purificar o corpo físico e o coração.
A purificação do corpo
implica comportamento limpo, claro e aberto, dar carinho e servir aos outros,
fazendo de nós um modelo a ser seguido. Significa não ir à busca do prazer e da
gula, não falar palavras fúteis, desrespeitosas ou sobre os erros dos outros;
não promover discórdias, mas sim incentivar as pessoas a fazerem as coisas
certas; falar palavras reconciliadoras; ser educado, amoroso, suave, delicado,
afável e benevolente; não falar alto e grosseiramente.
(...) A purificação do
coração, enquanto fonte da consciência do ser humano, ocorre com a preservação
do pensamento limpo e sem defeito. Para isso, devemos desenvolver a sinceridade,
o respeito, a humildade, a gratidão a harmonia, o contentamento, a
misericórdia, a compaixão, a abnegação e o perdão, no entanto sem aplacar o
sentimento de revolta contra injustiças e a miséria.
(...) O sentido da vida
está em ajudarmos no equilíbrio de nossos semelhantes. Aqueles que se tornaram
conhecedores da Lei e já conquistaram seu equilíbrio buscam a essência do
Criador nas coisas mais simples; sacrificam-se pelos semelhantes, sem nada
esperar em troca; preocupam-se em não depredar a natureza; integram-se por
inteiro ao ancestral místico, sabendo que tudo é parte do mesmo corpo de
Olorum.
A nós, umbandistas, cabe purificar
o nosso íntimo, renovar nossa religiosidade e a fé nos sagrados orixás, no
nosso meio humano, sofrido e desencantado com tantas injustiças sociais e
religiões comprometidas com esse estado de coisas.”
Por Lurdes de Campos
Vieira e Rubens Saraceni.
Manual Doutrinário,
Ritualístico e Comportamental umbandista.
São Paulo: Madras, 2006,
pág. 34 a 36.
Nenhum comentário:
Postar um comentário