Entendemos ser o rito
umbandista uma prática religiosa de caráter coletivo, no qual cada participante
comunga com o outro a experiência espiritual.
Desta forma,
compreenderemos que cada indivíduo que se integra aos trabalhos da casa (mesmo
aqueles sentados na assistência, bem se diga), trazem para o interior do
terreiro todo o conjunto de suas possibilidades psíquicas e anímicas, assim
como todo o complexo de suas relações espirituais, identificadas diretamente
com sua existência. Assim, cada participante do rito traz ao terreiro os seus
protetores espirituais e depositam ao longo do rito, na irradiação (egrégora)
formada ao longo dos trabalhos, a sua contribuição em benefício de si mesmo e
de todos quantos estejam compartilhando do momento da gira.
É de conhecimento,
"senso comum", no meio umbandista que os espíritos Guias iniciam um
processo de maior estreitamento de suas energias com as de seu médium (cavalo),
num período de 24 horas antes do inicío dos trabalhos espirituais. Isso implica
no conhecimento de que há, adrede programado, um relacionamento estabelecido
entre as estruturas psíquicas do medianeiro com as de seus Guias, os quais irão
penetrar em seu campo consciencial de maneira ostensiva nos momentos de transe,
culminando na realização de sua função mediúnica e aplicando-a na experiência
religiosa.
De tal sorte que o cavalo
de Umbanda deve preparar-se ritualisticamente para o seu mister como
medianeiro. O recolhimento, a oração, os banhos de defesa e a iluminação de
suas correntes, conforme recomendação de cada templo, deverão ser práticas
presentes em sua vida religiosa.
Isso porque serão trazidos
ao campo de influência de sua aura (irradiação) não somente aqueles espíritos
que irão comungar com o médium no momento do transe, mas também aqueles
espíritos que encontram-se "adormecidos" no plano espiritual ou que
estejam influenciando negativamente determinada pessoa ou local.
Compreendamos tal fato ao
considerarmos que o indivíduo-médium, ao propôr-se a realizar a sua iniciação
espiritual, passa a ampliar as suas relações com o mundo espiritual, levando-o
a um maior estado de sensibilidade das influências espirituais (positivas e
negativas) verificadas em determinados ambientes e pessoas.
Porque ilumina a sua
consciência com a Luz espiritual que adquire na senda mediúnica, passa a servir
como farol àqueles que ainda encontram-se na escuridão e necessitam do
"choque" com as suas irradiações para recuperarem a lucidez
espiritual. Encontrando-se preparado, disciplinado, e consciente de sua
responsabilidade como médium, poderá servir como instrumento útil aos Mentores
de Luz no socorro aos necessitados do mundo espiritual, sem sofrer com isso
nenhum prejuízo ou desgaste.
Voltando à questão coletiva
da prática umbandista, gostaríamos de enfocar algumas percepções a respeito de
particularidades do rito umbandista e seu campo de influência espiritual sobre
os participantes e também sobre toda a região física e extra-física que pode
ser alcançada pelas irradiações do templo, a depender de seus propósitos de
trabalho e compromisso diante das Leis de Umbanda.
Movimentando as
consciências de todos, no momento irmanados no sentimento religioso, para um
estado de equilíbrio psíquico, o rito Umbandista efetiva desvincular os
presentes (encarnados e desencarnados, sempre vale lembrar) de mecanismos
emocionais perturbadores, afastando influências espirituais negativas e
dissipando acúmulos de energias nocivas.
Lembremos que a proporção
de seres habitantes do mundo espiritual é cerca de 8 vezes maior do que a
população da Terra, portanto, o número de assistidos na dimensão astral é
significativamente maior do que a quantidade de pessoas encarnadas presentes ao
Rito.
Assim, a Corrente
Espiritual da casa reúne em torno de si todos aqueles espíritos que serão
atendidos e encaminhados para as paragens de refazimento e orientação, na
Aruanda Maior.
Fazem isso, com a
participação muitas vezes inconsciente da corrente mediúnica da casa,
proporcionando quadros de profunda beleza, quando unem-se as irradiações
espirituais produzidas pelas mentalizações coletivas (expressas
ritualisticamente por meio dos pontos cantados e das orações), com aquelas
provindas de instâncias superiores de Aruanda, evocadas pelos Guias no momento
do trabalho, manifestando simbolos universais e plasmando-os no plano astral,
sub cujo impacto abrem-se portais de luz (que geralmente podem ser vistos pela
clarividência cintilando no centro do congá ou no "centro ritual" do
terreiro), para onde são atraídos os espíritos recem-desencarnados ou aqueles
tantos ainda doentes e inconscientes de sua condição espiritual.
Os Mentores de Luz também
reordenam no mundo astral as forças que se tornarão vinculadas aos
sustentáculos vibratórios do templo de Umbanda (o congá, seus assentamentos,
suas firmezas, etc), integrando-as ao seu campo de influência e expandindo,
consequentemente, as dimensões do templo no plano astral. Daí, imaginemos, uma
casa com um tradição sólida, vivenciada durante anos e anos na prática do bem e
da caridade, e poderemos vislumbrar o quão extensa pode ser a "amplitude
espiritual" de um terreiro de Umbanda.
Quando presentes à gira de
Umbanda, todos aqueles que nela encontram-se (médiuns ou não) são envolvidos
pelo campo de atuação espiritual do terreiro, ao qual entregam, mesmo que de
maneira inconsciente, todo o complexo próprio de seu mundo interior (estado
emocional, memórias, conflitos, rogativas, etc), sendo este prontamente
assimilado por essa "alma coletiva" formada e movimentada dentro do
templo.
Esse campo
"psíquico-coletivo" é acessado pelos Guias da casa e invariavelmente
observado por aqueles (espíritos) que incumbem-se de trazer ao plano
existencial os meios de influenciar o campo de consciência de todo filho-de-fé
que pede, que ora, que agradece, plantando em seu mundo íntimo, por meio da
inspiração, as disposições e possibilidades criativas de encontrar novos rumos
para a sua vida, mediante a realidade de cada um.
Vemos, portanto, que a
atuação espiritual realizada pelos Guias de Umbanda realiza-se, não de maneira
fantástica e repleta de episódios sobrenaturais (como quer a fantasia de
muitos), mas de maneira sutil e contínua sobre todos, buscando inspirar idéias
e comportamentos novos ao filho-de-fé, facultando que este possa libertar-se do
julgo dos conflitos existenciais e abrir-se a novas possibilidades em sua vida,
contribuindo primordialmente para que este aprenda e desenvolva a gratidão, a
paciência, a humildade, a caridade e a compaixão, que são atributos psicológicos
dos indivíduos maduros e seguros diante da Vida.
A prática da oração (feita
de coração, com atenção, e não somente repetindo palavras decoradas, de maneira
compulsiva) é o elo que possibilita ligar-nos aos Guias de Luz de nossa
Umbanda, e será ela (a oração) o fio condutor de nossos pensamentos com os
planos superiores da Vida, capaz de integrar-nos à própria Divindade, em cujo
contato poderemos aurir, das fontes inesgotáveis de Amor e Paz, a Serenidade e
o Equilíbrio necessários para podermos aliviar nossos sofrimentos e superarmos
nossos desafios íntimos.
Saravá a todos!
Referências:
Chiesa, Gustavo Ruiz
(2011). A Umbanda e as Coisas: Cosmologia e Materialidade na experiência
religiosa (artigo científico).
Rivas Neto, Francisco
(1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
Radin, Dean (2008). Mentes
Interligadas
Nenhum comentário:
Postar um comentário