No estudo que vimos
fazendo em torno da mediunidade, temos encontrado material digno da atenção de quantos
se interessam por tão delicado problema. Um aspecto importante é o que se
relaciona com a rebeldia dos médiuns que, sem razões defensáveis, resolvem
negligenciar e até abandonar suas tarefas mediúnicas.
São muitas as causas, mas,
às vezes, pode haver uma origem remota e mais grave que o simples desejo de fugir
aos encargos do trabalho mediúnico. No campo de nossas observações, temos
notado com frequência, a propensão revelada por alguns médiuns rebeldes para
abandonar completamente suas obrigações medianímicas, quer estejam em pleno
período de desenvolvimento, quer já se julguem desenvolvidos.
Geralmente, a rebeldia
constitui manifestação de mediunidade mal desenvolvida. Nunca se torna
demasiado repetir o perigo que o abandono do exercício mediúnico representa
para o médium e, consequentemente, para os que se encontrem sob sua
dependência.
É preciso compreender que
o trabalho mediúnico, em qualquer de suas fases, significa atendimento a compromissos
assumidos pelo Espírito antes de reencarnar. Mesmo que tais compromissos tenham
sido implicitamente aceitos, devem ser respeitados. O médium rebelde assume
grande responsabilidade e não pequeno débito, cuja amortização poderá ser
penosa e demorada. Não raro, o recalcitrante começa a pagar os juros de sua
obstinação aqui mesmo e essa responsabilidade o acompanha depois da
desencarnação. É a lei. As vicissitudes têm sua razão de ser, porque não há
efeito sem causa. Se o médium insiste em se afastar cada vez mais dos deveres
mediúnicos a que deve obediência verá sua situação se agravar cada vez mais.
Quanto menor for sua
pressa em retomar às santificantes tarefas da mediunidade, maior será o seu
infortúnio.
Conhecemos, por
experiência, a reação que os médiuns rebeldes oferecem àqueles que procuram,
com a mais elogiável das intenções, ampará-los e chamá-los ao reencontro do bom
caminho. Insuflados por entidades espirituais não evoluídas, que se valem de
suas fraquezas para lhes impor outros rumos, esses médiuns chegam até a
evidenciar irritação, maltratando os que querem justamente salvá-los de
provações mais amargas. Para eles é sempre recomendável o recurso da prece
individual e coletiva. Pode-se ter uma ideia, diante disto, da situação anormal
que os médiuns rebeldes criam para si próprios. Às vezes eles se consideram
muito inspirados, recusam conselhos e advertências, mostrando-se ofendidos em
face de qualquer propósito de proteção. Impõe-se, portanto, uma campanha
permanente de reeducação mental, capaz de abrir os olhos dessas infelizes
criaturas, que têm olhos de ver, mas não vêem.
Deve-se debater, com
pertinácia e riqueza de argumentos e de exemplos, a questão da mediunidade abandonada.
A maioria dos fatos ocorre com médiuns desconhecedores da Doutrina e do
Evangelho segundo o Espiritismo. Acontece que há entre eles os que se
envaidecem do dom que possuem e gostam de ser mimados. Nem sempre cultivam a
humildade, que constitui um dos pontos fortes da educação evangélica.
Parece-nos bem mais
difícil que o abandono das tarefas mediúnicas ocorra com médiuns senhores dos deveres
doutrinários e perfeitamente em dia com os ensinamentos evangélicos. Por isto,
é mister levar esses ensinamentos aos médiuns incipientes, que ainda se
encontram no período inicial do desenvolvimento, a fim de que se capacitem de
suas responsabilidades espirituais, aprendam a defender-se de influências
malsãs e evitem incidir nos erros que têm levado médiuns imprevidentes e
imprudentes às mais extensas e dolorosas provações.
Quando qualquer médium
perceber estar perdendo o interesse pelo serviço mediúnico, deve procurar um mentor
de comprovada idoneidade e expor-lhe sua situação. Muitos males poderão ser
evitados por essa providência oportuna. Em certos casos, o médium perturbado
será aconselhado a frequentar Sessões mediúnicas apenas como assistente, não
para trabalhar mediunicamente. E somente o fará mediante a assistência de um diretor
de sessão comprovadamente possuidor de requisitos doutrinários. Este buscará orientação
espiritual, far-lhe-á passes, convocará o Espírito-guia do médium para
consolidar o trabalho de recuperação.
A vigilância redobrará
através de preces, para envolver o Espírito do médium em fluidos benéficos,
destinados a protegê-lo contra a ação nefasta dos que o assediam e a despertar
sua consciência para a reconquista do rumo de que foi desviado. Todos sabemos a
inflexibilidade do carma. Temos dívidas do passado a ressarcir, dívidas que
podemos amortizar na encarnação atual, se não desperdiçamos as oportunidades
que se nos apresentam a cada instante. No caso da mediunidade, não devemos
recusá-la nem cobri-la de censura. Pelo contrário, nosso dever é abençoá-la e
fazer tudo quanto pudermos para aprimorar nossa capacidade de bem servi-la. Os
resultados serão estupendos. O exercício do mediunismo, realizado com dedicação
e fé, humildade e perseverança, entreabre para o médium um mundo novo de
felicidade interior. Benditos, pois, aqueles que são médiuns e sabem honrar a
sua mediunidade!
O médium que se nega a
efetuar o serviço mediúnico pode estar influenciado por “cargas fluídicas
negativas”, geralmente espessas e depressivas. Entidades espirituais de baixo
nível moral contribuem, em certos casos, para afastar os médiuns de seus
deveres. Deve-se neutralizar essas “cargas fluídicas” por meio de passes metódicos
e preces fervorosas. Quanto maior a saturação fluídica, mais difícil de ser
desfeita. Ela origina a “retenção da mediunidade”, que representa o acúmulo
excessivo de energia nervosa, de energia fluídica, diremos mais
apropriadamente, que a falta do exercício mediúnico transforma-se num elemento
prejudicial ao médium. Torna-se preciso, portanto, que este não deserte de suas
obrigações e seja assíduo aos exercícios da mediunidade. Trabalhando
mediunicamente, descarregará a energia nervosa excessiva e essa descarga, realizada
em serviços benéficos, lhe trará bem-estar.
Portanto, o médium deve
trabalhar, deve permanecer atento aos deveres mediúnicos, não apenas em seu próprio
benefício, mas para contribuir em favor dos serviços de caridade e assistência.
Não estamos fantasiando. A mediunidade está para a criatura como o salva-vidas
para o náufrago perdido na imensidade oceânica. Se este, confiado em sua
habilidade natatória, desfaz-se do salva-vidas, dentro em pouco, dominado pela
fadiga será envolvido pelas vagas e levado irremissivelmente ao soçobro. O
médium somente deve suspender o trabalho mediúnico por fadiga ou doença.
Geralmente, nestes casos, a situação se resolve naturalmente, seja por intuição
de seu Espírito-Guia, seja pela compreensão clara e pacífica da necessidade do repouso.
O que não se torna aconselhável é a suspensão do exercício da mediunidade por
motivos frívolos ou de natureza incompatível com as determinações da Doutrina.
Quase sempre o médium
portador de “saturação fluídica negativa” (assim denominamos o estado fluídico depressivo,
para maior facilidade do nosso raciocínio) se nega ao trabalho mediúnico sem
razão ponderável e repele qualquer auxílio assistencial dos companheiros mais
esclarecidos. Não aceita conselho e se considera absolutamente certo no que diz
e faz. Sem o perceber, vai abrindo caminho para a obsessão, tornando infrutíferos
os esforços para salvá-lo. Para os médiuns rebeldes, recalcitrantes, o recurso
recomendável é ainda o serviço mediúnico em sessão, fortalecido pela
assistência evangélica, além de passes adequados a cada situação, pois, embora
a aparência não o demonstre, nem sempre os rebeldes possuem características idênticas.
O problema do abandono do trabalho mediúnico é sério. A rebeldia, no entanto, é
rara naqueles que se escudam no estudo e na prática da Doutrina e de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”.
O médium amparado pela
consciência que tem de seus deveres mediúnicos, com plena noção das obrigações doutrinárias,
não se vê perturbado por influências malignas. Isso acontece com os
imprevidentes, que trocam a humildade pela vaidade.
Quanto mais a criatura se
evangeliza, quanto mais permanece fiel aos ensinamentos da Doutrina, mais forte
se sente para cumprir os compromissos assumidos espiritualmente. Eis por que
recomendamos ao médium se esforce sempre no seu próprio burilamento, estudando
também, como também exemplificando, “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos
Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde se encontra inavaliável
riqueza de ensinamentos. O médium que não estuda nem aplica as lições
doutrinárias e evangélicas é como um barco que voga ao sabor dos ventos.
Precisa, portanto, estudar sempre, pois no estudo aumentará seus recursos para
conquistam o seu bem-estar espiritual e melhor se defender das descargas
fluídicas negativas, principalmente de entidades que, por não conhecerem ainda
a beleza da Justiça Divina, perseveram no erro.
Avante, pois, médiuns!
(Texto de: Indalício
Mendes)
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