quinta-feira, 25 de maio de 2017

O PERIGO DE RENUNCIAR AO EXERCÍCIO MEDIÚNICO





No estudo que vimos fazendo em torno da mediunidade, temos encontrado material digno da atenção de quantos se interessam por tão delicado problema. Um aspecto importante é o que se relaciona com a rebeldia dos médiuns que, sem razões defensáveis, resolvem negligenciar e até abandonar suas tarefas mediúnicas.

São muitas as causas, mas, às vezes, pode haver uma origem remota e mais grave que o simples desejo de fugir aos encargos do trabalho mediúnico. No campo de nossas observações, temos notado com frequência, a propensão revelada por alguns médiuns rebeldes para abandonar completamente suas obrigações medianímicas, quer estejam em pleno período de desenvolvimento, quer já se julguem desenvolvidos.

Geralmente, a rebeldia constitui manifestação de mediunidade mal desenvolvida. Nunca se torna demasiado repetir o perigo que o abandono do exercício mediúnico representa para o médium e, consequentemente, para os que se encontrem sob sua dependência.

É preciso compreender que o trabalho mediúnico, em qualquer de suas fases, significa atendimento a compromissos assumidos pelo Espírito antes de reencarnar. Mesmo que tais compromissos tenham sido implicitamente aceitos, devem ser respeitados. O médium rebelde assume grande responsabilidade e não pequeno débito, cuja amortização poderá ser penosa e demorada. Não raro, o recalcitrante começa a pagar os juros de sua obstinação aqui mesmo e essa responsabilidade o acompanha depois da desencarnação. É a lei. As vicissitudes têm sua razão de ser, porque não há efeito sem causa. Se o médium insiste em se afastar cada vez mais dos deveres mediúnicos a que deve obediência verá sua situação se agravar cada vez mais.

Quanto menor for sua pressa em retomar às santificantes tarefas da mediunidade, maior será o seu infortúnio.

Conhecemos, por experiência, a reação que os médiuns rebeldes oferecem àqueles que procuram, com a mais elogiável das intenções, ampará-los e chamá-los ao reencontro do bom caminho. Insuflados por entidades espirituais não evoluídas, que se valem de suas fraquezas para lhes impor outros rumos, esses médiuns chegam até a evidenciar irritação, maltratando os que querem justamente salvá-los de provações mais amargas. Para eles é sempre recomendável o recurso da prece individual e coletiva. Pode-se ter uma ideia, diante disto, da situação anormal que os médiuns rebeldes criam para si próprios. Às vezes eles se consideram muito inspirados, recusam conselhos e advertências, mostrando-se ofendidos em face de qualquer propósito de proteção. Impõe-se, portanto, uma campanha permanente de reeducação mental, capaz de abrir os olhos dessas infelizes criaturas, que têm olhos de ver, mas não vêem.

Deve-se debater, com pertinácia e riqueza de argumentos e de exemplos, a questão da mediunidade abandonada. A maioria dos fatos ocorre com médiuns desconhecedores da Doutrina e do Evangelho segundo o Espiritismo. Acontece que há entre eles os que se envaidecem do dom que possuem e gostam de ser mimados. Nem sempre cultivam a humildade, que constitui um dos pontos fortes da educação evangélica.

Parece-nos bem mais difícil que o abandono das tarefas mediúnicas ocorra com médiuns senhores dos deveres doutrinários e perfeitamente em dia com os ensinamentos evangélicos. Por isto, é mister levar esses ensinamentos aos médiuns incipientes, que ainda se encontram no período inicial do desenvolvimento, a fim de que se capacitem de suas responsabilidades espirituais, aprendam a defender-se de influências malsãs e evitem incidir nos erros que têm levado médiuns imprevidentes e imprudentes às mais extensas e dolorosas provações.

Quando qualquer médium perceber estar perdendo o interesse pelo serviço mediúnico, deve procurar um mentor de comprovada idoneidade e expor-lhe sua situação. Muitos males poderão ser evitados por essa providência oportuna. Em certos casos, o médium perturbado será aconselhado a frequentar Sessões mediúnicas apenas como assistente, não para trabalhar mediunicamente. E somente o fará mediante a assistência de um diretor de sessão comprovadamente possuidor de requisitos doutrinários. Este buscará orientação espiritual, far-lhe-á passes, convocará o Espírito-guia do médium para consolidar o trabalho de recuperação.

A vigilância redobrará através de preces, para envolver o Espírito do médium em fluidos benéficos, destinados a protegê-lo contra a ação nefasta dos que o assediam e a despertar sua consciência para a reconquista do rumo de que foi desviado. Todos sabemos a inflexibilidade do carma. Temos dívidas do passado a ressarcir, dívidas que podemos amortizar na encarnação atual, se não desperdiçamos as oportunidades que se nos apresentam a cada instante. No caso da mediunidade, não devemos recusá-la nem cobri-la de censura. Pelo contrário, nosso dever é abençoá-la e fazer tudo quanto pudermos para aprimorar nossa capacidade de bem servi-la. Os resultados serão estupendos. O exercício do mediunismo, realizado com dedicação e fé, humildade e perseverança, entreabre para o médium um mundo novo de felicidade interior. Benditos, pois, aqueles que são médiuns e sabem honrar a sua mediunidade!

O médium que se nega a efetuar o serviço mediúnico pode estar influenciado por “cargas fluídicas negativas”, geralmente espessas e depressivas. Entidades espirituais de baixo nível moral contribuem, em certos casos, para afastar os médiuns de seus deveres. Deve-se neutralizar essas “cargas fluídicas” por meio de passes metódicos e preces fervorosas. Quanto maior a saturação fluídica, mais difícil de ser desfeita. Ela origina a “retenção da mediunidade”, que representa o acúmulo excessivo de energia nervosa, de energia fluídica, diremos mais apropriadamente, que a falta do exercício mediúnico transforma-se num elemento prejudicial ao médium. Torna-se preciso, portanto, que este não deserte de suas obrigações e seja assíduo aos exercícios da mediunidade. Trabalhando mediunicamente, descarregará a energia nervosa excessiva e essa descarga, realizada em serviços benéficos, lhe trará bem-estar.

Portanto, o médium deve trabalhar, deve permanecer atento aos deveres mediúnicos, não apenas em seu próprio benefício, mas para contribuir em favor dos serviços de caridade e assistência. Não estamos fantasiando. A mediunidade está para a criatura como o salva-vidas para o náufrago perdido na imensidade oceânica. Se este, confiado em sua habilidade natatória, desfaz-se do salva-vidas, dentro em pouco, dominado pela fadiga será envolvido pelas vagas e levado irremissivelmente ao soçobro. O médium somente deve suspender o trabalho mediúnico por fadiga ou doença. Geralmente, nestes casos, a situação se resolve naturalmente, seja por intuição de seu Espírito-Guia, seja pela compreensão clara e pacífica da necessidade do repouso. O que não se torna aconselhável é a suspensão do exercício da mediunidade por motivos frívolos ou de natureza incompatível com as determinações da Doutrina.

Quase sempre o médium portador de “saturação fluídica negativa” (assim denominamos o estado fluídico depressivo, para maior facilidade do nosso raciocínio) se nega ao trabalho mediúnico sem razão ponderável e repele qualquer auxílio assistencial dos companheiros mais esclarecidos. Não aceita conselho e se considera absolutamente certo no que diz e faz. Sem o perceber, vai abrindo caminho para a obsessão, tornando infrutíferos os esforços para salvá-lo. Para os médiuns rebeldes, recalcitrantes, o recurso recomendável é ainda o serviço mediúnico em sessão, fortalecido pela assistência evangélica, além de passes adequados a cada situação, pois, embora a aparência não o demonstre, nem sempre os rebeldes possuem características idênticas. O problema do abandono do trabalho mediúnico é sério. A rebeldia, no entanto, é rara naqueles que se escudam no estudo e na prática da Doutrina e de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

O médium amparado pela consciência que tem de seus deveres mediúnicos, com plena noção das obrigações doutrinárias, não se vê perturbado por influências malignas. Isso acontece com os imprevidentes, que trocam a humildade pela vaidade.

Quanto mais a criatura se evangeliza, quanto mais permanece fiel aos ensinamentos da Doutrina, mais forte se sente para cumprir os compromissos assumidos espiritualmente. Eis por que recomendamos ao médium se esforce sempre no seu próprio burilamento, estudando também, como também exemplificando, “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde se encontra inavaliável riqueza de ensinamentos. O médium que não estuda nem aplica as lições doutrinárias e evangélicas é como um barco que voga ao sabor dos ventos. Precisa, portanto, estudar sempre, pois no estudo aumentará seus recursos para conquistam o seu bem-estar espiritual e melhor se defender das descargas fluídicas negativas, principalmente de entidades que, por não conhecerem ainda a beleza da Justiça Divina, perseveram no erro.

Avante, pois, médiuns!
















(Texto de: Indalício Mendes)

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