"Um músico deve
compor, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, caso pretendam deixar
seu coração em paz. O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade
podemos dar o nome de auto realização."
Abraham Harold Maslow
(1908 - 1970)
A Umbanda é um caminho
real para evolução espiritual!
Um dia ao se atravessar o
grande portal, que a Umbanda abre para todas as consciências, fica muito
difícil enveredar por outra estrada, ou realizar o caminho de volta para sair
pela porta que entrou.
De certa forma é válido as
palavras: "Quem está fora não queira entrar, quem está dentro não deseje
sair."
Na sua essência, se deseja
expressar, que a Umbanda é uma viagem sem retorno. Uma vez vivida a
experiência, jamais seremos os mesmos novamente.
Não, amigo leitor, não são
palavras que desejam atemorizar ao leigo e o neófito, não existe nada na
Umbanda que se deva temer, nem tão pouco, algo que impeça alguém de sair.
Qualquer coisa que indique o contrário, são mitos, lendas e superstições.
Na Umbanda existe sim,
como religião, uma marcante experiência de "religare" e uma vivência
transformadora.
Seu processo iniciático
produz a abertura consciencial para apreensão de ensinamentos profundos e esses
seus ensinamentos imprimem uma transmutação de valores transcendentes em todos
os seus adeptos.
Na Umbanda, não se
doutrina, se vive, não se acredita, tem fé, não se dogmatiza, se racionaliza,
não se impõem, se apreende. Talvez, por isso, não seja ela uma religião
codificada doutrinariamente, tendo em vista, que abarcadora de consciências,
prefira trabalhar psico-espiritualmente com as diferenças para aglutiná-las
pelas semelhanças de forma fraternal e cooperativa.
Eis o fundamento, que
molda o movimento umbandista, com uma abrangência tão extensa de ecletismo e,
por que não dizer, também de sincretismo. Eclética na diferenciação de suas
diversas escolas e sincrética por absorver ritos e liturgias exteriores a si
mesma, no intuito de que sirvam de adaptadores conscienciais as individualidades,
que dela se aproximam. Como sempre lembramos, existe um terreiro adequado para
todo e qualquer tipo de consciência.
Intrinsicamente
universalista, a Umbanda, é dinâmica e aparentemente flexível ou maleável para
as necessidades conscienciais das coletividades que a compõem. O objetivo
principal é sempre, não devemos esquecer, a evolução espiritual do ser humano,
independente da forma que a favoreça.
Procurada por muitos e
apresentada por tantos outros, principalmente seus próprios adeptos, como uma
religião de solução ou enfrentamento dos problemas de origem material, mesmo
que com fundo espiritual, a Umbanda realmente trata estas necessidades básicas
dos indivíduos, embora seja apenas uma faceta de sua área de atuação. Essa
visão reducionista, somente trouxe prejuízos a imagem da religião, que geraram
entre outros a pecha de "baixo espiritismo". Na verdade, a Umbanda,
oferece todo um conjunto holístico de soluções para o ser humano e suas
coletividades.
O seu processo de
atendimento fraterno e espiritual, obedece a pirâmide das necessidades e
desejos de Maslow.
Abraham Maslow, psicólogo,
consultor norte americano, estudioso do campo das motivações, criou uma teoria
segundo a qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis,
numa hierarquia de importância e influenciação. Essa hierarquia de necessidades
é representada e visualizada em uma pirâmide, em cuja base estão as
necessidades mais baixas e no topo as mais elevadas. A necessidade fisiológica
fica localizada na base e a necessidade de auto realização no cume desta
pirâmide.
Um detalhe muito
importante da Teoria de Maslow é que ela diz que a pessoa tem que ter a sua
necessidade do nível inferior satisfeita, ou quase integralmente satisfeita,
para sentir a necessidade do nível superior. Ou seja: a pessoa que não tem suas
necessidades de segurança satisfeitas não sente ainda necessidades sociais. E
assim por diante.
Nas palavras do próprio
Maslow:
"... à medida que os
aspectos básicos que formam a qualidade de vida são preenchidos, podem deslocar
seu desejo para aspirações cada vez mais elevadas."
Consciente dessas
necessidades e desejos do ser humano, a Umbanda inicia o seu contato pela base
da pirâmide, sendo que, em todos os instantes o conjunto de suas soluções
sempre possibilitam a antevisão ou a possibilidade de ascensão para os níveis
superiores da hierarquia proposta na teoria de Maslow.
Como estamos falando de
Umbanda e por consequência de espiritualidade, podemos acrescentar, na base da
pirâmide, junto as necessidades fisiológicas (alimentação e sobrevivência), as
dores e sofrimentos psicológicos, emocionais e espirituais dos indivíduos.
Assim fazemos, pois embora largo o portal da Umbanda para todo tipo de
consciência, o caminho, que leva as pessoas a religião é estreito, pontuado
invariavelmente pela dor e o sofrimento. Os que entram, pela primeira vez, em
um terreiro de Umbanda, buscam respostas para as necessidades da base da
pirâmide de Maslow, raros são os que chegam a ela, querendo atender os desejos
do cume (auto realização).
Ao conquistar a
estabilidade das necessidades da base da pirâmide, o então consulente ou
visitante, deseja manter de forma perene o estado alcançado e assim se torna
adepto, resolvendo as necessidades do segundo nível hierárquico da pirâmide,
Segurança.
Como adepto ele inicia uma
troca e uma efetiva participação na coletividade e suas diversas atividades,
realizando os desejos e necessidades do terceiro nível hierárquico, ou seja o
Social. Plenamente adaptado a religião e sua coletividade, o próximo nível de
satisfação se manifesta e Estima (Status), passa ser a palavra-chave para sua
motivação.
Para o cume da pirâmide
ser alcançado, depende exclusivamente do próprio adepto. Faz-se mister, ter
apreendido uma visão da essência da Umbanda em detrimento da forma, conquistado
evolução e aurido valores espirituais elevados. Parece simples, mas não é
fácil.
A solução holística, como
denomino o processo de atendimento, que a Umbanda realiza, as necessidades
identificadas pela Teoria de Maslow, se consubstancia na integralidade intrínseca
ao 'modus operandi' dos trabalhos em um terreiro.
Senão, vejamos:
a) No atendimento
espiritual, as entidades sempre escutam e tentam apresentar soluções para os
problemas enfrentados pelos consulentes e localizados na base da pirâmide
(necessidades da vida material, emocional e psíquica);
b) A duração do tratamento
e a assiduidade da frequência, imputam em atender os quesitos do nível de
Segurança;
c) No âmbito do nível
Social, podemos incluir os ensinamentos e orientações para vida que são
repassados e a oportunidade do exercício desses valores espirituais, morais,
éticos e de cidadania, dentro e fora da própria coletividade.
d) Os ritos, a liturgia,
os trabalhos mediúnicos e a vivência ativa na religião, geram a satisfação das
necessidades do nível Estima (Status), além de permitir ao adepto um
posicionamento de umbandista consciente e cidadão planetário.
e) A Auto realização como,
já explicitamos é pessoal e intransferível e consequência do auto
aperfeiçoamento do adepto.
Coadjuvantes primordiais
nesse processo e reverberadores para aplicação dessa solução holística em seus
adeptos, consulentes e frequentadores de seus terreiros, os dirigentes
(Pais/Mães-de-Santo) devem estar plenamente cônscios de seus papéis e
responsabilidades de facilitadores e orientadores.
Antes deles, nós
umbandistas (os filhos-de-santo), devemos estar sempre alertas e conscientes de
como permitimos, que essa facilitação ocorra, na forma como vivemos este
relacionamento com os facilitadores e o que entregamos, de nós mesmos, para que
esses orientadores nos conduzam no caminho espiritual.
Desde de que o mundo é
mundo e religião existe, os arquétipos farisaicos, o fundamentalismo e os
mercadores da fé estão servindo de modelo e sendo copiados indiscriminadamente.
Devemos sempre cuidar para não nos tornarmos nenhum deles e não deixarmos nos
envolver por ninguém, que assim proceda.
No universo religioso e da
espiritualidade institucionalizada, não podemos deixar de concordar, que
infelizmente nos deparamos com realidades como as que estão bem definidas na
entrevista fornecida por, um dos Mestres do Budismo Tibetano da atualidade,
Lama Dzongsar Khyentse Rinpoche (trecho adaptado):
"Vivemos em um mundo
onde somos atormentados pela constante insegurança. A espiritualidade tornou-se
um negócio, então os dirigentes espirituais (...) sempre sentem a necessidade
de gerar mais negócios. Dada esta insegurança, sabendo do ponto fraco das
pessoas, é bem fácil vender espiritualidade. Todo homem ou mulher de negócios,
estou certo, sabe o que leva a se vender coisas. Primeiro, você diz às pessoas
que há algo que elas devem ter, algo que elas não têm. Então, você lhes diz que
o lugar para comprar é aqui, de você. Nós temos tudo que você precisa. O Buddha
disse: "Não confie na pessoa, mas confie nos ensinamentos. Não confie nas
palavras, mas confie no significado." Este é um grande conselho. Quando
entramos no caminho espiritual, é importante sermos muito cuidadosos".
Esses são realidades
tristes e lamentáveis. Experiências que podemos nos poupar se estivermos
vigilantes. Uma das vacinas para se detectar essas discrepâncias e não se
tornar vítima desses modelos de pessoas é utilizar com os dirigentes
espirituais o seguinte crivo, ou seja, estar atento para a manifestação das
seguintes características:
1) Querer que a sua
verdade, seja o certo incondicional para todos;
2) O seu certo, não pode
ser contrariado de forma nenhuma.
3) Querer ganhar sempre;
4) Não querer perder
nunca.
5) Agir na frente das
pessoas de uma forma, por trás de outra;
6) Ter dois pesos e duas
medidas em seus julgamentos.
7) Fomentar, de alguma
forma, a idolatria, para si.
8) Propaganda exacerbada
dos fatos e ocorrências, sempre maravilhosas de si mesmo, dos seus dons
espirituais e da espiritualidade ao seu redor;
9) Não enfrentamento do
que está errado.
10) Correção e ajustes
apenas do que estiver de acordo com o seu interesse pessoal.
Por, outro lado, os
umbandistas, devem aprender a separar a religião, o mundo espiritual, das
pessoas, do ser humano, que são os dirigentes de um terreiro.
Iguais a nós, eles são
cheios de defeitos, falhas e com as mesmas necessidades e desejos. Se nós
erramos, eles também erram. Óbvio e elementar.
Idolatria, fé cega,
obediência incondicional e dedicação exclusiva jamais devem ser atitudes adotadas
pelo adepto.
As responsabilidades dos
dirigentes de terreiro são grandes e as suas ações na orientação e
direcionamento de almas, devem ser isentos de interesses pessoais e objetivos
próprios, que não sejam, o de servirem a coletividade e seus integrantes, quer
queiram ou não.
O movimento umbandista,
não está livre do farisaísmo, do fundamentalismo e tão pouco dos mercadores da
fé.
Por outro lado a Umbanda,
nada tem haver com isso, a religião oferece todo um conjunto de oportunidades
para o religare com o Divino e o Sagrado. O plano do mundo espiritual é
aplicado, independente dessas discrepâncias e a falta de rumo de alguns,
profundo e abrangente, este plano tem como objetivo, colaborar
prioritariamente, com a evolução individual e coletiva, não só dos seus adeptos
e dirigentes, mas do planeta.
Ao tratar a pirâmide das
necessidades e desejos de forma integral e holística, fornecendo orientações
seguras para um caminho espiritual profícuo e evolutivo, a Umbanda oferece a
todos, as ferramentas necessárias para auto-realização e armas adequadas para
uma vigilância permanente as possíveis armadilhas que se apresentem. Maslow e
Buda que o digam.
Umbanda sem mistério
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