terça-feira, 21 de maio de 2013

MAUS PENSAMENTOS


 


            O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no assoalho da casa.
            Seu Pai, que estava indo para o quintal fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o menino para uma conversa.
             Zeca, de oito anos de idade, o acompanha desconfiado.
            Antes que seu pai dissesse alguma coisa , fala irritado:
 --- Pai, estou com muita raiva. O Juca não devia ter feito aquilo comigo. Desejo tudo de ruim para ele.
            Seu pai, um homem simples mas cheio de sabedoria, escuta, calmamente, o filho que continua a reclamar:
            --- O Juca me humilhou na frente dos meus amigos; não aceito; gostaria que ele ficasse doente sem poder ir à escola.
             O pai escuta tudo calado enquanto caminha até o abrigo onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o acompanhou, calado.
            Zeca vê o saco aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer uma pergunta, o pai lhe propõe algo:
             --- Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amiguinho Juca e cada pedaço de carvão é um mau pensamento seu, endereçado a ele. Quero que você jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.
             O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra.
              O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertaram o alvo.
             Uma hora se passou e o menino terminou a tarefa.
             O pai, que espiava tudo de longe, se aproxima do menino e lhe pergunta:
             --- Filho, como está se sentindo agora?
            --- Estou cansado mais estou alegre porque acertei muitos pedaços de carvão na camisa.
             O pai olha para o menino, que fica sem entender a razão daquela brincadeira, e carinhoso lhe fala:
             --- Venha comigo até o meu quarto, quero lhe mostrar uma coisa.
            O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado na frente de um grande espelho onde pode ver seu corpo todo.
             Que susto! Só se conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos.
             O pai, então, lhe diz ternamente:
--- Filho, você viu que a camisa quase não se sujou; mas, olhe só para você. O mau que desejamos aos outros é como o que lhe aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com nossos pensamentos, a borra, os resíduos, a fuligem ficam sempre em nós mesmos.
             Zeca teceu um sorriso envergonhado e falou feliz:
   --- Vou tomar um banho e depois lavar a camisa.




                                   (João Bonon Netto)

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