quinta-feira, 24 de novembro de 2016

DECIFRANDO O PAI NOSSO







“Pai nosso,…”

Já neste início, Jesus lembra claramente dos laços que nos mantém ligados a Divindade. Ao ser interrogado no monte das oliveiras, durante o sermão da montanha sobre a forma certa de se orar. Ora, claro é que Jesus não quis, com isso, criar uma forma ou um modelo para oração que deveria ser seguido com uma cartilha. Prova disso temos quando, o próprio Jesus, aconselha a, quando orarmos, não nos assemelharmos aos hipócritas que se põe de pé e afetadamente oram aos homens e, ainda, para cuidarmos de não tornarmos nossa prece em um multiplicado de palavras que pouco dizem ao coração (1). Jesus, em sua sublime sabedoria e evolução, mostra ao povo da época, ainda muito preso aos ritos e as exteriorizações, que chegar ao Pai por pensamento é simples. Basta haver sinceridade nas palavras e amor ao chamá-lo de Pai.

“…que estás no céu.”

Sem a ideia do Deus presente, do Deus interno, as pessoas da época O imaginavam com uma visão antropomórfica, como um ser pontual que, do céu regia as leis do universo. Mais adiante, Jesus quebra esta distância nos aproximando, em sua prece, do Pai.

“Santificado seja o Teu nome.”

Jesus não veio destruir a lei. Ao contrário, veio cumpri-la até o último iota(2). Mais uma prova disto notamos neste trecho da sua prece quando fazemos a ligação com o segundo mandamento: “Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus”(3). Jesus, cumprindo a lei, glorifica o nome do Senhor em uma expressão de humildade e servidão.

“Venha a nós o Teu reino.”

Como mencionado acima, Cristo com estas palavras, aproxima o Reino de Deus do povo. Mostra também que o Reino de Deus, do qual Jesus se proclama Rei, não se trata de uma nação na Terra, como pensavam alguns da época, mas sim do reino dos céus, que simboliza a vida espiritual que é, realmente, a real.

“Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no céu.”

Com estas palavras, Jesus rogava: cumpra-se na Terra as Tuas leis. Necessitamos ter a consciência de que nada acontece sem estar de acordo com as leis que regem o universo, que são, como disse Jesus, as vontades de Deus. A reencarnação e a lei de causa e efeito são exemplos muito demonstrativos do que o Mestre chamou de a vontade de Deus. Não se trata de uma vontade fútil, autoritária e mutável. Se trata de um conjunto de leis imutáveis e perfeitas funcionando segundo uma inteligência maior, em sua perfeita justiça e sabedoria. Ao elevar nosso pensamento a Deus, devemos ter a consciência de que tudo que pedirmos será realizado segundo nosso merecimento; cumprindo as lei irrevogáveis, imutáveis e perfeitas do Pai. Logo, segundo a vontade Dele(4).

“O pão nosso de cada dia nos dê hoje.”

O pão, como elemento sagrado, representa não só o alimento material mas o alimento espiritual, que podemos entender de várias formas. Assim como o alimento material nutre o organismo com a energia necessária para seu funcionamento, recebemos do Alto o alimento fluídico necessário para mantermos nosso psiquismo equilibrado, para permanecermos com nossos pés firmes no caminho do bem e mantermo-nos perseverantes frente as dificuldades do dia a dia.

“Perdoe as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”

Com esta frase Jesus reafirma os ensinamentos que passava ao povo: “Quando vos apresentardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados”(5). Como o povo da época tinha a idéia do Deus punidor e vingativo, atribuíam a Sua ira as conseqüências da lei de causa e efeito. Ensinando os homens a perdoar, Jesus ensina-os também a amenizar os sofrimentos futuros que virão como forma de purgar os erros presentes. Ensinava Ele o caminho do amor, menos penoso que o caminho da dor.

“Não nos deixe cair em tentação, mas sim, livra-nos do mal.”

Jesus tinha a consciência de que todo o mal que possa nos acontecer, e uma forma ou de outra é responsabilidade nossa. Desta forma, assim nos ensina como pedir o pão ao Pai, pedir forças para não nos deixarmos envolver pelas vicissitudes do mundo. Em nenhuma parte, durante a prece, Cristo nos exime de responsabilidades ou pede para nos livrarmos delas. Ao contrário, conhecedor destas dificuldades, nos ensina através da prece, do perdão da humildade e da adoração a Deus a mantermo-nos fortes para caminhar para frente e para cima em direção ao Pai nosso.

“Amém.”



















Bibliografia
1-Mateus, cap. VI, vv. 5-8.
2-Mateus, cap. V, vv. 17,18.
3-Êxodo, cap. XX, vv.5-15.
4-Kardec, A. em O Livro dos Espíritos, cap. I.
5-Marcos cap. XI, vv. 25,26.


Por Vitor Hugo Moreau (Publicado no Boletim GEAE Número 296 de 9 de junho de 1998)

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