“Pai nosso,…”
Já neste início, Jesus
lembra claramente dos laços que nos mantém ligados a Divindade. Ao ser
interrogado no monte das oliveiras, durante o sermão da montanha sobre a forma
certa de se orar. Ora, claro é que Jesus não quis, com isso, criar uma forma ou
um modelo para oração que deveria ser seguido com uma cartilha. Prova disso
temos quando, o próprio Jesus, aconselha a, quando orarmos, não nos
assemelharmos aos hipócritas que se põe de pé e afetadamente oram aos homens e,
ainda, para cuidarmos de não tornarmos nossa prece em um multiplicado de
palavras que pouco dizem ao coração (1). Jesus, em sua sublime sabedoria e
evolução, mostra ao povo da época, ainda muito preso aos ritos e as
exteriorizações, que chegar ao Pai por pensamento é simples. Basta haver sinceridade
nas palavras e amor ao chamá-lo de Pai.
“…que estás no céu.”
Sem a ideia do Deus
presente, do Deus interno, as pessoas da época O imaginavam com uma visão
antropomórfica, como um ser pontual que, do céu regia as leis do universo. Mais
adiante, Jesus quebra esta distância nos aproximando, em sua prece, do Pai.
“Santificado seja o Teu
nome.”
Jesus não veio destruir a
lei. Ao contrário, veio cumpri-la até o último iota(2). Mais uma prova disto
notamos neste trecho da sua prece quando fazemos a ligação com o segundo
mandamento: “Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus”(3). Jesus,
cumprindo a lei, glorifica o nome do Senhor em uma expressão de humildade e
servidão.
“Venha a nós o Teu reino.”
Como mencionado acima,
Cristo com estas palavras, aproxima o Reino de Deus do povo. Mostra também que
o Reino de Deus, do qual Jesus se proclama Rei, não se trata de uma nação na
Terra, como pensavam alguns da época, mas sim do reino dos céus, que simboliza
a vida espiritual que é, realmente, a real.
“Seja feita a Tua vontade,
assim na Terra como no céu.”
Com estas palavras, Jesus
rogava: cumpra-se na Terra as Tuas leis. Necessitamos ter a consciência de que
nada acontece sem estar de acordo com as leis que regem o universo, que são,
como disse Jesus, as vontades de Deus. A reencarnação e a lei de causa e efeito
são exemplos muito demonstrativos do que o Mestre chamou de a vontade de Deus.
Não se trata de uma vontade fútil, autoritária e mutável. Se trata de um
conjunto de leis imutáveis e perfeitas funcionando segundo uma inteligência
maior, em sua perfeita justiça e sabedoria. Ao elevar nosso pensamento a Deus,
devemos ter a consciência de que tudo que pedirmos será realizado segundo nosso
merecimento; cumprindo as lei irrevogáveis, imutáveis e perfeitas do Pai. Logo,
segundo a vontade Dele(4).
“O pão nosso de cada dia
nos dê hoje.”
O pão, como elemento
sagrado, representa não só o alimento material mas o alimento espiritual, que
podemos entender de várias formas. Assim como o alimento material nutre o
organismo com a energia necessária para seu funcionamento, recebemos do Alto o
alimento fluídico necessário para mantermos nosso psiquismo equilibrado, para
permanecermos com nossos pés firmes no caminho do bem e mantermo-nos
perseverantes frente as dificuldades do dia a dia.
“Perdoe as nossas dívidas,
assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”
Com esta frase Jesus
reafirma os ensinamentos que passava ao povo: “Quando vos apresentardes para
orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso
Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados”(5). Como o povo da
época tinha a idéia do Deus punidor e vingativo, atribuíam a Sua ira as
conseqüências da lei de causa e efeito. Ensinando os homens a perdoar, Jesus
ensina-os também a amenizar os sofrimentos futuros que virão como forma de
purgar os erros presentes. Ensinava Ele o caminho do amor, menos penoso que o
caminho da dor.
“Não nos deixe cair em
tentação, mas sim, livra-nos do mal.”
Jesus tinha a consciência
de que todo o mal que possa nos acontecer, e uma forma ou de outra é responsabilidade
nossa. Desta forma, assim nos ensina como pedir o pão ao Pai, pedir forças para
não nos deixarmos envolver pelas vicissitudes do mundo. Em nenhuma parte,
durante a prece, Cristo nos exime de responsabilidades ou pede para nos
livrarmos delas. Ao contrário, conhecedor destas dificuldades, nos ensina
através da prece, do perdão da humildade e da adoração a Deus a mantermo-nos
fortes para caminhar para frente e para cima em direção ao Pai nosso.
“Amém.”
Bibliografia
1-Mateus, cap. VI, vv.
5-8.
2-Mateus, cap. V, vv.
17,18.
3-Êxodo, cap. XX, vv.5-15.
4-Kardec, A. em O Livro
dos Espíritos, cap. I.
5-Marcos cap. XI, vv.
25,26.
Por Vitor Hugo Moreau
(Publicado no Boletim GEAE Número 296 de 9 de junho de 1998)
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