sábado, 7 de junho de 2014

A JUSTIÇA DIVINA


A necessidade de se reconhecer um princípio diretor (Deus), justo e equânime para compreender a sociedade e suas complexas relações onde, aparentemente, não existe justiça além da dos homens, coloca a reencarnação como o mecanismo capaz de exercer-se uma justiça verdadeira e de possibilitar a compreensão e ao mesmo tempo o crescimento dessa mesma sociedade. Nenhum conhecimento poderia justificar as contingências do existir, com a precisão com que a reencarnação o faz. Tudo tem um sentido. As dificuldades e conflitos humanos passam pela necessidade de uma justificativa filosófica e até mesmo energética. A reencarnação é a chave para desvendar os mistérios provocados pelo vazio do conhecimento parcial que o homem tem sobre si mesmo e sobre as relações humanas.

Nem sempre a justiça, que se processa pela via da reencarnação, verifica-se imediatamente na encarnação seguinte do espírito. Os mecanismos educativos podem ocorrer na mesma existência, sem a necessidade de se aguardar uma próxima encarnação, como também podem dar-se após várias encarnações terem ocorrido sem sua manifestação. O tempo que leva para que o processo educativo se instale, dependerá da ocorrência de fatores que propiciem o aprendizado do espírito. Às vezes, há a necessidade de se reunirem pessoas várias num processo único, o que poderá levar séculos ou milênios. Deve salientar-se que ninguém, nenhum ser humano, estará isento do processo de educação. A reencarnação é o mecanismo obrigatório no nível de evolução em que se encontra a humanidade terrestre. Ninguém está isento dela. Não há privilégios nem privilegiados.

É comum, por ignorância, o homem querer fazer justiça com suas próprias mãos. Não sabendo ele do alcance das Leis de Deus, resolve fazer justiça. Age como se fosse do seu direito punir o outro que o agrediu. Tal atitude nem sempre resulta na educação de sua vítima. Ao tentar punir, mesmo com o intuito de educar, torna-se também agressor. Como não sabe educar com amor, necessitará, por sua vez, ser educado para aprender a fazê-lo. Daí decorre que, quem realiza sua própria justiça, (ou se vinga), necessita ser educado para aprender a agir com justiça. A vingança é a impaciência ante as Leis de Deus. Se o homem soubesse educar poderia fazer-se de instrumento adequado para o exercício da justiça. Educar no sentido de fazer o espírito alcançar verdadeiramente a Lei de Deus. Como pode ele educar outro espírito se ainda não iniciou um processo de auto educação? É preciso que ele comece a agir com amor e misericórdia.

Ao fazer justiça, julgando-se no seu direito, o homem estabelece uma conexão entre ele e sua vítima. Imanta-se ao outro. Mesmo que o outro tenha sido seu algoz, cria-se uma ligação que permanece, enquanto ambos necessitarem ser educados. O ódio, tanto quanto o amor, liga as pessoas. O primeiro, o ódio, deverá transformar-se no segundo, o amor.

Nas relações entre os seres humanos deve sempre prevalecer o amor. Ele é a base da evolução humana. Toda relação entre pessoas deve chegar ao seu clímax, no amor. Ponto de encontro das Leis de Deus.

Os mecanismos de justiça são sempre detalhados. Nada escapa a Deus. Nenhum detalhe é esquecido. Tudo se processa para fazer com que o espírito se melhore. A justiça se processa de forma a educar o espírito. Nunca no sentido de puni-lo, mas de educá-lo.

A reencarnação é um processo educativo. É comum dizer-se que o espírito reencarnou para "pagar" pois quem deve tem de pagar. Tal afirmação deve ser entendida no seu sentido figurado. A "dívida" deve ser entendida como ausência de conhecimento, isto é, desconhecimento em relação à Lei de Deus. O entendimento deve ser de que, se o espírito odeia, ele desconhece a Lei de Amor. Reencarna portanto para aprender.

"Dívida" e "Resgate" são expressões simbólicas de nossa ignorância às Leis de Deus.

Os mecanismos de justiça, aos poucos, vão se modificando com o progresso da sociedade. O que antes era usado como forma educativa pode não mais ser possível ou necessário. Há doenças que antes eram usadas para tal, mas que a medicina já erradicou. Dessa forma, dia chegará em que o homem excluirá dezenas de formas educativas baseadas na dor física. A Lei de Deus usará outras formas de educar o espírito.

Até lá utilizar-se-á delas para educá-lo. Quando a Lei deixar de aplicar a dor, o homem já terá avançado no progresso moral e pertencerá a outra ordem espiritual.

Seria o homem capaz, algum dia, de exercer, em nome de Deus, a Sua justiça? Quando ele tiver avançado moralmente, sim. Exercer a justiça implica em saber julgar. Em, de forma neutra, estabelecer o adequado e o inadequado. O que é melhor ou não para determinado espírito. É saber discernir entre aquilo que educa e o que, ao contrário, aprisiona o espírito. Só será possível dessa forma agir, se o espírito estiver acima das paixões e dos sentidos.


A reencarnação proporciona ao espírito vivenciar existências que o capacitarão a aprender as Leis de Deus. Só dessa forma ele se preparará a exercer Sua justiça na Terra.



















Novaes, Adenáuer Marcos Ferraz de
Reencarnação: processo educativo
Salvador: Fundação Lar Harmonia, 1997

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