A necessidade de se
reconhecer um princípio diretor (Deus), justo e equânime para compreender a
sociedade e suas complexas relações onde, aparentemente, não existe justiça além
da dos homens, coloca a reencarnação como o mecanismo capaz de exercer-se uma
justiça verdadeira e de possibilitar a compreensão e ao mesmo tempo o
crescimento dessa mesma sociedade. Nenhum conhecimento poderia justificar as contingências
do existir, com a precisão com que a reencarnação o faz. Tudo tem um sentido.
As dificuldades e conflitos humanos passam pela necessidade de uma
justificativa filosófica e até mesmo energética. A reencarnação é a chave para
desvendar os mistérios provocados pelo vazio do conhecimento parcial que o
homem tem sobre si mesmo e sobre as relações humanas.
Nem sempre a justiça, que
se processa pela via da reencarnação, verifica-se imediatamente na encarnação
seguinte do espírito. Os mecanismos educativos podem ocorrer na mesma
existência, sem a necessidade de se aguardar uma próxima encarnação, como
também podem dar-se após várias encarnações terem ocorrido sem sua
manifestação. O tempo que leva para que o processo educativo se instale,
dependerá da ocorrência de fatores que propiciem o aprendizado do espírito. Às
vezes, há a necessidade de se reunirem pessoas várias num processo único, o que
poderá levar séculos ou milênios. Deve salientar-se que ninguém, nenhum ser
humano, estará isento do processo de educação. A reencarnação é o mecanismo
obrigatório no nível de evolução em que se encontra a humanidade terrestre.
Ninguém está isento dela. Não há privilégios nem privilegiados.
É comum, por ignorância, o
homem querer fazer justiça com suas próprias mãos. Não sabendo ele do alcance
das Leis de Deus, resolve fazer justiça. Age como se fosse do seu direito punir
o outro que o agrediu. Tal atitude nem sempre resulta na educação de sua
vítima. Ao tentar punir, mesmo com o intuito de educar, torna-se também
agressor. Como não sabe educar com amor, necessitará, por sua vez, ser educado
para aprender a fazê-lo. Daí decorre que, quem realiza sua própria justiça, (ou
se vinga), necessita ser educado para aprender a agir com justiça. A vingança é
a impaciência ante as Leis de Deus. Se o homem soubesse educar poderia fazer-se
de instrumento adequado para o exercício da justiça. Educar no sentido de fazer
o espírito alcançar verdadeiramente a Lei de Deus. Como pode ele educar outro
espírito se ainda não iniciou um processo de auto educação? É preciso que ele
comece a agir com amor e misericórdia.
Ao fazer justiça,
julgando-se no seu direito, o homem estabelece uma conexão entre ele e sua
vítima. Imanta-se ao outro. Mesmo que o outro tenha sido seu algoz, cria-se uma
ligação que permanece, enquanto ambos necessitarem ser educados. O ódio, tanto
quanto o amor, liga as pessoas. O primeiro, o ódio, deverá transformar-se no
segundo, o amor.
Nas relações entre os
seres humanos deve sempre prevalecer o amor. Ele é a base da evolução humana.
Toda relação entre pessoas deve chegar ao seu clímax, no amor. Ponto de encontro
das Leis de Deus.
Os mecanismos de justiça
são sempre detalhados. Nada escapa a Deus. Nenhum detalhe é esquecido. Tudo se
processa para fazer com que o espírito se melhore. A justiça se processa de
forma a educar o espírito. Nunca no sentido de puni-lo, mas de educá-lo.
A reencarnação é um
processo educativo. É comum dizer-se que o espírito reencarnou para
"pagar" pois quem deve tem de pagar. Tal afirmação deve ser entendida
no seu sentido figurado. A "dívida" deve ser entendida como ausência
de conhecimento, isto é, desconhecimento em relação à Lei de Deus. O
entendimento deve ser de que, se o espírito odeia, ele desconhece a Lei de Amor.
Reencarna portanto para aprender.
"Dívida" e
"Resgate" são expressões simbólicas de nossa ignorância às Leis de
Deus.
Os mecanismos de justiça,
aos poucos, vão se modificando com o progresso da sociedade. O que antes era usado
como forma educativa pode não mais ser possível ou necessário. Há doenças que
antes eram usadas para tal, mas que a medicina já erradicou. Dessa forma, dia
chegará em que o homem excluirá dezenas de formas educativas baseadas na dor física.
A Lei de Deus usará outras formas de educar o espírito.
Até lá utilizar-se-á delas
para educá-lo. Quando a Lei deixar de aplicar a dor, o homem já terá avançado
no progresso moral e pertencerá a outra ordem espiritual.
Seria o homem capaz, algum
dia, de exercer, em nome de Deus, a Sua justiça? Quando ele tiver avançado
moralmente, sim. Exercer a justiça implica em saber julgar. Em, de forma neutra,
estabelecer o adequado e o inadequado. O que é melhor ou não para determinado
espírito. É saber discernir entre aquilo que educa e o que, ao contrário,
aprisiona o espírito. Só será possível dessa forma agir, se o espírito estiver
acima das paixões e dos sentidos.
A reencarnação proporciona
ao espírito vivenciar existências que o capacitarão a aprender as Leis de Deus.
Só dessa forma ele se preparará a exercer Sua justiça na Terra.
Novaes, Adenáuer Marcos Ferraz de
Reencarnação: processo educativo
Salvador: Fundação Lar Harmonia, 1997
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